São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
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'Tendência é grande confusão', diz arquiteto

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Um dos mais conceituados arquitetos do mundo, o suíço Mario Botta, 51, diz que a tendência mundial da arquitetura "é uma grande confusão".
Para Botta, a arquitetura reflete as contradições da história social e não se pode imaginar uma tendência única. "A história é o verdadeiro patrão do arquiteto", afirma.
Autor de projetos como a "casa redonda" (1980), construída em Stabio, região de Lugano (Suíça), Botta participou em Recife do encerramento da 2ª Bienal Internacional de Arquitetura, na última semana de outubro.
Esta foi a primeira vez que ele veio ao Brasil, depois de visitar São Paulo em junho último, quando foi homenageado no Museu da Casa Brasileira com uma exposição de fotos e croquis de sua obra.
Em entrevista à Agência Folha, o responsável por projetos como a catedral de Evry, próxima de Paris, e Galeria de Arte de Tóquio, disse que inaugura ainda neste inverno norte-americano o Museu de Arte de San Francisco, na Califórnia. Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
Agência Folha – Qual a tendência atual da arquitetura?
Mario Botta – A tendência mundial é uma grande confusão. A arquitetura é o reflexo da sociedade, uma solução formal da história. Não podemos imaginar uma tendência única desde que a história social mostre as maiores contradições. A história é o verdadeiro patrão do arquiteto.
Agência Folha – O sr. diz que a situação geográfica determina a condição, a imagem da casa. Esse conceito é aplicável aos países do Terceiro Mundo?
Botta – É universal. O terreno tem papel fundamental, mas a casa bela é a casa que funciona bem. A estética e a praticidade não são contrárias.
Agência Folha – Há um sentido ecológico nisso?
Botta – Eu penso que sim, no sentido em que eu utilizo o sol, o vento, a chuva, a lua, as estrelas como elementos cósmicos que devem entrar na habitação. A arquitetura é antes de tudo uma afirmação de uma fé artificial.
É um ato contra a natureza. Desde o momento em que eu coloco uma pedra sobre um terreno, eu faço um ato de violência. Eu transformo uma condição de natureza em uma condição de cultura.
Agência Folha – Aonde quer chegar Mario Botta?
Botta – Não sei. Vou trabalhar porque é minha profissão. Atualmente, há muita contradição, riqueza e esperança. Minha missão é continuar até quando a caneta tiver criatividade para satisfazer necessidades do homem.

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