São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
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Prioridade de Menem é social, diz irmão

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O presidente da Argentina, Carlos Menem, concentrará a campanha à reeleição na construção de casas populares e criação de novos empregos, avisa o irmão Eduardo Menem, presidente do Senado.
Ele diz em entrevista à Folha que não será o vice da chapa do irmão nas eleições de maio "por causa da relação de parentesco".
Cauteloso, evita comentar a relação do presidente Menem com sua ex-mulher, Zulema Yoma.
Recentemente, o banco La Nación emprestou mais de US$ 100 milhões às empresas da família Yoma, o que é atribuído pela oposição a um acordo do presidente com a ex-mulher para evitar problemas na campanha eleitoral.
Folha - Qual será a principal preocupação do presidente Menem caso ele obtenha um segundo mandato, como indicam as pesquisas de intenção de voto?
Eduardo Menem – Manter a estabilidade econômica, aumentar o crescimento e atender à questão social. Preocupa-nos o desemprego. A solução está dentro do atual esquema econômico. Não vamos buscar um sistema econômico distinto. A oposição não apresentou alternativas ao programa.
Folha - A situação da oposição ficou mais difícil com a quase ausência de mobilização sindical no governo Menem?
Menem – O movimento sindical existe e é forte, mas sabe, em sua maioria, escolher o que é mais conveniente depois de ter vivido a época da hiperinflação.
Folha - O presidente já está em campanha eleitoral. Qual será o ponto forte dela?
Menem – O governo vai continuar insistindo em aumentar a produtividade e em elaborar um programa quinquenal que contenha a realização de obras de diversas naturezas, entre elas obras de muito impacto social, como a construção de casas populares, que gera novos empregos.
Folha - A oposição acusa o presidente de ter feito um acordo com sua ex-mulher, Zulema Yoma, para evitar problemas nas eleições. Esse acordo inclui os empréstimos do banco La Nación ao grupo Yoma?
Menem – Sobre problemas familiares eu não falo. O banco La Nación já explicou o empréstimo. Não tenho nada com o empréstimo porque não sou ministro da Economia. De todo modo, o banco já explicou que o empréstimo está dentro das linhas rotineiras de financiamento. A oposição não pode questionar o programa de governo e passa a criticar as roupas do presidente, seus jogos de golfe e compras de helicóptero. Por isso a oposição está como está: perdeu as eleiçoes em 89, 91, 93 e 94 e vai perder em 95.
Folha - Sociólogos argentinos dizem que o governo Menem estimulou um novo comportamento, promovendo novos-ricos e ostentação excessiva de riqueza.
Menem – Só podem ser sociólogos de oposicão. É absurdo dizer que só o presidente muda comportamentos. Parece pouco sério. Deve ser para estudantes do primeiro ano de sociologia.
Folha - Como será o perfil do vice do presidente em 95? O sr. pode integrar essa chapa?
Menem – Não (risos). Eu já descartei isso precisamente por causa da relação de parentesco. Pode, talvez, não cair bem para muita gente. Estou exercendo essa função (vice-presidente) há quase três anos, mas é muito diferente quando se trata de uma reeleição.
Folha - Que critérios ele utilizará para escolher o seu vice?
Menem – Um nome que compartilhe a filosofia de governo, honesto e de sua confiança.
Folha - A família Menem não tem muitos cargos no governo?
Menem – Esse argumento não resiste a nenhuma análise. O que significa isso? Em que cargos públicos estão os irmãos? No meu caso, sou senador eleito. No governo, nenhum tem cargo de ministro ou secretário. O filho (Carlos Saúl Menem Júnior) colabora com o pai. Isso se faz em muitos países do mundo.
Folha - O presidente Menem enfrenta dificuldades no Congresso para aprovar medidas de cortes nos gastos. O sr. acha que os parlamentares aprovariam um pacote impopular a poucos meses das eleições?
Menem – Nunca foi fácil aprovar leis para transformações. À medida que nos aproximamos do período eleitoral, fica mais difícil. Creio que conseguiremos aprovar as medidas, mas não serão com o ideal que quer o governo.
Folha - Como o sr. está negociando a aprovação dessas medidas diante da disposição do ministro Domingo Cavallo (Economia) de reduzir o número de funcionários públicos e promover um ajuste nas Províncias?
Menem – Trata-se de reduzir o gasto. Isso não significa necessariamente que tenham que ocorrer demissões. Pode-se reduzir o gasto supérfluo. Pode-se simplesmente racionalizar o gasto sem promover o desemprego.
Folha - O sr. acredita que o presidente Menem não demitirá mais funcionários públicos?
Menem – Não está previsto que haja demissões em massa.
Folha - Mas podem ocorrer demissões?
Menem – Eu acredito que não.
Folha - Como o sr. definiria o "menemismo"? Não é bem diferente do peronismo, conhecido pelo nacionalismo e ações sociais junto à população mais pobre?
Menem – Em primeiro lugar, não existe menemismo. O que se chama de "menemismo" é o peronismo atualizado. É um peronismo que se ajusta às exigências da sociedade atual. Esse peronismo é tão nacionalista quanto o de 1946 e preocupa-se com as questões sociais tal como o de 1946. O país e o mundo mudaram. Não se pode aplicar nos anos 90 a receita dos anos 40. Trata-se de manter as mesmas bandeiras, adaptando-as à realidade atual. Por isso, temos privatizações e a reforma do Estado, mas continuamos preocupados com a questão social, tal como previsto nos princípios fundamentais do peronismo.

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