São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O Brasil e a Pepsi

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Volto ao tema tratado ontem pela relevância que adquire como eventual definidor do perfil do país.
A discussão em curso entre setores do empresariado industrial e a equipe econômica diz respeito à combinação, potencialmente letal para muitas empresas, de uma moeda sobrevalorizada com a redução das alíquotas de importação.
O argumento da equipe é o de que a abertura é necessária para obrigar as empresas brasileiras a se tornarem competitivas. Fica implícita a suspeita de que muitas indústrias nacionais só se tornaram viáveis graças ao protecionismo, característico da política econômica desde os anos 50, e a subsídios governamentais.
O empresariado devolve a crítica implícita. Paulo Cunha (grupo Ultra), um dos mais articulados e discretos empresários brasileiros, tem repetido à exaustão que se está distorcendo os termos do debate. Não é que o empresariado clame por proteção. Quer condições corretas de competição.
Exemplos que Cunha sempre menciona: uma petroquímica estrangeira com a mesma eficiência da que ele dirige capta dinheiro a juros pelo menos cinco vezes mais baixos do que os brasileiros. E utiliza portos, por exemplo, muito mais eficientes e, por extensão, mais baratos do que os nacionais.
Vale a pena introduzir, nesse debate, a palavra de um economista externo, Paul Krugman, do mitológico MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). "Competitividade é uma palavra sem sentido quando aplicada à economias nacionais. Países não competem como a Pepsi e a Coca-Cola", dispara Krugman.
Mais: "Apesar de o comércio mundial ser bem maior do que jamais o foi, os padrões nacionais de vida são determinados predominantemente por fatores domésticos mais do que por alguma competição pelos mercados mundiais".
Eu até pagaria ingresso para ver Krugman e Gustavo Franco trancados numa sala discutindo a questão. Não pelo espetáculo em si, mas pelo fato de que nem no âmbito acadêmico ela parece pacífica. Quanto mais na vida real.

Texto Anterior: A informação
Próximo Texto: Álbum de recordações
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.