São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Bancos ganham menos após o Plano Real

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

A rentabilidade anualizada dos bancos caiu após o Plano Real, passando de 14,97% no primeiro semestre deste ano para 13,78% no terceiro trimestre de 1994, segundo levantamento da Austin Asis Consultoria com base em balanço de 12 bancos.
O Banco Central praticou elevados juros reais (acima da inflação) no terceiro trimestre deste ano para segurar o consumo inflacionário.
Isso garantiu aos bancos uma rentabilidade no terceiro trimestre deste ano até mesmo superior à lucratividade mediana de 13,53% nos balanços anuais de 1993.
Erivelto Rodrigues, diretor da Austin Asis Consultoria, diz que os bancos continuam se ajustando ao Plano Real através de redução nos custos, remanejamento de funcionários improdutivos, cobrança de tarifas e eliminação de agências deficitárias.
O consultor acredita que no próximo ano as instituições financeiras voltarão a elevar seus lucros, pois o compulsório deve ser temporário e os juros devem continuar elevados.
Segundo ele, os bancos obtinham 40% da receita de intermediação financeira através dos ganhos com depósitos à vista e prazos de cobrança.
As instituições com maior número de agências (varejistas) tiveram uma queda mais pronunciada na rentabilidade do que os atacadistas (que trabalham basicamente com empresas).
As instituições financeiras obtiveram ainda bons resultados em julho. A causa foi o efeito inercial das operações do primeiro semestre e dos altos juros praticados no primeiro mês do Plano Real.
Logo em seguida, houve uma acomodação dos aplicadores que passaram a deixar maior volume de recursos em conta corrente.
Os bancos não puderam aproveitar esse comportamento do público, pois o governo exigiu que o volume total (100%) dos depósitos à vista fosse recolhido ao Banco Central.
Segundo dados do Banco Central, os depósitos à vista cresceram, em média, 113,6% no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre deste ano.
O lucro médio no terceiro trimestre dos bancos analisados diminuiu 27% em relação à média trimestral do primeiro semestre.
Para esse quarto trimestre, os bancos se preparavam para aumentar seus ganhos através do maior volume de financiamentos. O Banco Central frustrou essa expectativa através da imposição do compulsório de 15% sobre os empréstimos e redução no prazo de financiamento para três meses.
O presidente interino da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Pedro Conde, diz que o sistema financeiros há muito tempo vinha se preparando para a estabilização econômica.
A queda na rentabilidade no terceiro trimestre deste ano era "natural" e os resultados podem ser considerados satisfatórios, pois os bancos continuam sendo lucrativos, afirma.
O banqueiro diz que os ajustes em termos de racionalização administrativa devem prosseguir. A sua expectativa é que de forma gradual os bancos deixem de serem apenas financiadores do governo para cumprirem sua função social de intermediarem recursos para a geração de riquezas.

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