São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 1994
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Ação militar em favela foi abusiva, diz OAB

FERNANDA DA ESCÓSSIA; DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, José Roberto Batochio, disse que a ação militar no Rio incorreu em crimes de abuso de poder.
Ele condenou as detenções por falta de documentos, os mandados de busca generalizados para um morro e a realização de revistas em situações humilhantes (pessoas de joelhos ou sob mira de armas).
A OAB e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) vão exigir do Comando Militar do Leste (CML) a permissão para que a imprensa acompanhe as operações.
O presidente da ABI, Barbosa Lima Sobrinho, disse que a proibição do acesso dos jornalistas atenta contra a liberdade de imprensa.
A OAB criou uma comissão para atuar junto ao CML e se informar das operações. A comissão terá audiência com o comandante do CML, general Édson Mey.
Para Batochio, a presença do Exército nas ruas é "um precedente perigoso e preocupante".
"Se a moda pega, nós vamos chamar o Exército para tudo".
Ele disse que a OAB é a favor da cooperação das Forças Armadas com o governo do Rio, desde que a ação "se faça dentro da constitucionalidade".
Batochio disse que se preocupa com a atuação das Forças Amadas no policiamento porque os militares têm formação para identificar e matar o inimigo, e não para prender delinquentes.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da entidade, José Carlos Cataldi, disse que foi à PE (Polícia do Exército) procurar os 18 presos.
Ele afirmou que, na PE, recebeu a informação de que os todos haviam sido transferidos para as delegacias especializadas. Ele disse que a OAB está checando a informação. A OAB recebe denúncias pelo telefone (021) 210.3244 (R.237).
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores também pedirá esclarecimentos sobre as operações ao general Câmara Senna, comandante da operação.
O pedreiro José Nunes, 35, baleado por um fuzileiro durante a ocupação no Dendê, continua internado no Hospital Souza Aguiar. Ele ainda está na emergência.
O pastor José da Silva, o "Zé Perigo", 46, da Igreja Pentecostal Vida em Cristo, sediada na favela, disse que, se José Luís piorar, fará um abaixo-assinado. "Se ele perder o braço, as Forças Armadas vão ter que indenizar".
Colaborou DANIELA PINHEIRO, free-lance para a Folha.

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