São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 1994
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Transplante pode alterar natureza humana

CLÁUDIO CSILLAG
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Uma equipe de cientistas dos EUA realizou um transplante inédito de células geradoras de espermatozóides.
Camundongos incapazes de produzir espermatozóides receberam essas células, chamadas espermatogônias. Em seguida, passaram a produzir gametas masculinos funcionantes.
A técnica -que pode levar à erradicação de doenças genéticas- traz implicações éticas tão importantes quanto as discutidas no final do ano passado, quando outros pesquisadores dos EUA clonaram (copiaram) embriões humanos.
"A longo prazo, poderemos introduzir novos genes no homem", disse à Folha Ralph Brinster, da Universidade da Pensilvânia e chefe da equipe de pesquisadores.
Segundo a técnica de Brinster, publicada hoje na revista da Academia de Ciências dos EUA, a carga genética de animais pode ser definitivamente alterada.
Basta implantar uma espermatogônia com alguma alteração genética em um macho. Dependendo do tipo de alteração, todos os espermatozóides que ela produzir carregarão o gene novo.
Quando um desses espermatozóides fecundar um óvulo, o ser concebido será, a rigor, diferente dos progenitores.
Como todas as células de um indivíduo provêm do ovo concebido, elas contêm material genético idêntico.
Portanto, todas as células do novo ser -desde células cerebrais até os espermatozóides ou óvulos que ele vier a produzir- carregarão a alteração genética.
Apesar de polêmica, a técnica tem o potencial de eliminar doenças genéticas.
Métodos atuais de terapia genética consistem em introduzir um gene em células "comuns" do corpo.
É o que ocorre com tratamentos contra câncer, por exemplo, em que células de defesa recebem um "gene antitumoral".
A célula somática também fica alterada, mas, quando morre, a alteração genética desaparece. Geneterapia contra o câncer, por exemplo, necessita de várias aplicações.
Por outro lado, se uma espermatogônia recebe um gene novo, a alteração genética é definitiva.
Uma pessoa poderia não apenas ser curada da doença -como permitem atuais terapias genéticas- mas também "tratar" seus espermatozóides, eliminando o risco de ter filhos com o problema.
O trabalho publicado hoje foi realizado apenas em camundongos, e Brinster considera precoce discussões éticas sobre o assunto. "Isso fica para políticos, quando a técnica estiver mais avançada".

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