São Paulo, sexta-feira, 25 de novembro de 1994
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Exército usa mil homens para cercar favelas

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Na maior operação realizada até agora, cerca de 1.000 soldados do Exército ocuparam ontem todos os acessos das favelas que compõem o Complexo do Alemão (zona norte do Rio).
A área é considerada um dos pontos onde há maior comércio de drogas na cidade.
A chegada dos soldados foi anunciada pelos olheiros do tráfico com fogos de artifício.
Os soldados ainda ocupavam os acessos às favelas do complexo quando foram ouvidas as primeiras explosões dos fogos, vindas do alto da favela Nova Brasília. Entre 14h e 14h10 foram ouvidas seis explosões.
Há um mês, na favela de Nova Brasília, 13 pessoas foram assassinadas durante uma operação de policiais da Delegacia de Repressão aos Entorpecentes.
O Complexo do Alemão é formado por dez favelas, nos bairros de Bonsucesso, Olaria, Ramos, Penha e Inhaúma. A região é uma das mais violentas do Rio.
Uê é acusado de ter sido o responsável pela morte de Orlando Jogador, que controlava o tráfico na área. Orlando foi metralhado dentro de seu carro quando passava pelas imediações da favela Vila Cruzeiro, que fica na região.
No acesso principal da favela da Grota, no morro do Alemão, os soldados chegaram a subir um trecho da rua Joaquim de Queiróz, mas logo depois desceram.
Uma barreira foi montada no início da rua e 15 soldados e duas policiais militares revistavam todos os moradores que entravam e saíam da favela.
No acesso à Nova Brasília, seis pessoas foram presas por falta de documentos. Os soldados não disseram para onde seriam levadas.
Na entrada da favela do Alemão, os militares evitaram revistar crianças. Na Nova Brasília, elas não escaparam da revista.
Um tanque de combate Urutu foi colocado na praça São Lucas, no centro da favela do Parque Vila Proletária da Penha. No alto do tanque havia uma metralhadora apontada para a favela.
Dois soldados munidos de binóculos acompanhavam a movimentação no morro. Outros quatro, armados de fuzis, evitavam que pessoas se aproximassem do veículo.
Só no trecho entre as favelas de Nova Brasília e Grota foram vistos pelo menos 14 jipes e 8 caminhões. As entradas das duas favelas ficam a menos de um quilômetro uma da outra.
Participaram da operação o 24º Batalhão de Infantaria Blindada, o 1º Regimento de Carros de Combate e a Polícia do Exército.
A operação terminou às 17h35. Durante a ocupação, dois helicópteros sobrevoaram a área das favelas. Um avião militar, do tipo Hércules, também foi visto sobrevoando a área.
O diretor do Departamento Geral de Polícia Tecnica e Científica da Polícia Civil do Rio, delegado Mauro Ricart, esteve no local. Ele disse ter sido chamado pelo comando da operação para instruir os soldados a não mexerem nos locais onde houvesse alguma apreensão de drogas para facilitar o trabalho de perícia.
O comandante da operação, tenente-coronel Holanda, disse não ter chamado o delegado. "Ele veio porque soube da operação e quis ver o que estávamos fazendo."

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