São Paulo, sábado, 26 de novembro de 1994
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Costure no trânsito e mantenha o mau humor

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Nas 54 páginas de "Enough is Enough - Weekly Meditations for Living Dysfunctionally", Karen Finley faz quase um indulto a todas as vezes em que você é péssimo com os outros –amigos, namorados, pais, filhos, vizinhos, conhecidos. Através de conselhos, dicas, lembretes e exemplos, Finley estimula você a se sentir o centro do mundo, a dar truque e a passar por cima de qualquer um só para melhorar sua auto-estima.
Assim, os capítulos incluem Mentir, Dar uma Desculpa, Odiar, Ser Difícil, Complicar, Reclamar, Fazer Cena, Agir Feito Louco, Exagerar, Pragas e Vinganças. Tudo numa linguagem saborosa, coloquial e inteligente, que à primeira vista parece simplista e rasa mas, por si, revela o cinismo e a cara-de-pau dos pensamentos destrambelhados de Finley.
Como no item Culpar: "A melhor maneira de facilitar nossas vidas é culpar alguém por nossos erros. Sabemos quando cometemos um erro, então por que diabos deveríamos sofrer a humilhação de admitir publicamente? E quando você não tem culpa, aí é a hora de culpar a si mesmo e as pessoas vão dizer não, não, você não tem culpa e é maravilhoso por assumir uma culpa que você não tem."
Danem-se os outros, festeja Finley. Ela ensina a achar que somos o máximo, a aumentar as coisas ("É muito melhor dizer que você é ótimo na cama do que dizer que você é apenas bom") e a exagerar ("Nada é pior do que alguém que conta uma história exatamente como ela acontece. Ninguém liga."). "Todos precisamos aprender a arte de atrair a atenção sobre nós", explica. "Um bom jeito é interromper conversas ou usar roupas chamativas."
O livro é verdadeiro guia para ocasiões sociais. Quando você pode chegar atrasado ("Quem chega tarde é apreciado porque as pessoas que trabalham muito não são esperadas na hora), dar uma de sabe-tudo e debochar dos outros ("É especialmente gratificante rir de alguém enquanto a pessoa está no mesmo lugar que você, sem que ela saiba. É um bom passatempo e alivia seu stress.")
Outras indicações praticamente transformariam a vida das pessoas à volta num inferno. Como no capítulo Agir feito Louco: "Faz cada relacionamento selvagem e apaixonado, adicionando tempero à rotina. Cria mistério e excitação E depois é só consertar tudo." Adiante, Finley estimula a manter seu mau humor o máximo tempo possível e a reclamar. "Quando não há nada para se queixar, reclame de algo ocorrido há tempos."
Com estranhos, Finley é ainda mais cruel. "Você não diz obrigado, 'costura' no trânsito e não retorna ligações. Geralmente, você é mal-educado. Isso significa ser mal-educado com turistas e, quando você é um turista, você é mal-educado também." Por fim, faça cena em público e disponha livros pela sala para impressionar as visitas. Quem nunca fez nada disso que atire a primeira pedra.

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