São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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JORGE LUIZ STARK FILHO Especial para o TV Folha

JORGE LUIZ STARK FILHO

Éramos 18. Isso mesmo: seis em cada aparelho. Seis que multiplicados pelos três (aparelhos ou personagens) ainda são 18.
Somos a Eunice (a dona-de-casa-que-trabalha), a Bia (a filha) e eu (o pai).
A Beatriz tem quatro anos e meio. Nós já perdemos as contas. Menos esta: temos três aparelhos de TV.
Há instantes em que os três estão sintonizados no mesmo canal.
Há, também, momentos em que uns ou outros andam desligados (personagens ou aparelhos).
E há dias em que a família, unida, estabelece a divergência absoluta. Para isso, temos três aparelhos.
Democraticamente perfeito, politicamente incorreto: tela de cinco polegadas para assistir futebol é rádio iluminado. Ainda mais em cima da geladeira, brincando de pinguim.
A Bia assiste tudo, menos em seu quarto onde jaz, solitária, uma 14 polegadas com controle remoto.
O 20 polegadas da suíte não pega a novela. Assim, em uma noite dessas, a Eunice virou para um lado e dormiu. Eu virei para o outro, e dormi. E a Bia, de posse do controle remoto, sintonizou a "Sexta Sexy".
Quando vi, era tarde demais: protestei, briguei, ameacei bater e desligar. Ela, tranquila, deu dois tapinhas carinhosos fechando meus olhos e recomendou: "Dorme, papai, dorme..."

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