São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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ARGEMIRO DE SOUZA NETO Especial para o TV Folha

ARGEMIRO DE SOUZA NETO

Foi por volta de 68. Elas, na frente do fusca; eu, bem criança, atrás. Conversavam como se eu não estivesse ali, como fazem até hoje os adultos. "Onde já se viu dizer que as três melhores coisas da vida são cigarro, bebida e sexo!", dizia minha avó, entre uma baforada e outra. "Essa Tonia Carrero, morre pela vaidade", concordava minha mãe, ajeitando a faixa da peruca e fechando um Aero-Willys. Eu ouvia, maravilhado. Deviam ser três coisas fantásticas.
Verão de 82. Procurava me dedicar àquelas três coisas... e à TV. Passava férias na cama com uma amiga, telemaníaca também.
Foi um choque, logo pela manhã. Elis morreu. Na Globo, Tonia esbravejando pela liberação do corpo.
"Essa mulher era uma deusa! Não interessa o que ela tomou!", dizia com a mesma dignidade com a qual a personagem de "Navalha na Carne" comia um sanduíche de mortadela.
Pude entender melhor meu país. Quis dar um beijo na boca da Tonia, sabor mortadela.
1994. O SBT na entrega do Oscar. Uma repórter flagra a dama visivelmente alcoolizada numa boate paulistana. Ela faz uma elegia aos artistas brasileiros. Quis dar-lhe outro beijo, sabor scotch. Mas, lá se foi Tonia, atônita, pelas telas do Brasil. Como nós, levando este país de porre.

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