São Paulo, segunda-feira, 28 de novembro de 1994
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Exército revista apartamentos de militares

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

Cerca de 50 homens da PE (Polícia do Exército) cercaram na madrugada de anteontem o Conjunto Residencial Brigadeiro Granja, conhecido como "Condomínio da Aeronáutica", em Marechal Hermes (zona norte do Rio), revistaram 14 apartamentos e, segundo os moradores, prenderam duas pessoas.
A operação começou às 4h30 da manhã e terminou pouco antes das 8h. Segundo a administradora do condomínio, Elda Batista da Silva, os militares usaram um helicóptero na ação.
Os moradores do condomínio são, em sua maioria, da Aeronáutica. Os prédios foram construídos pela Caixa de Financiamento da Aeronáutica, segundo informou a administradora.
O condomínio fica ao lado do Depósito Central de Intendência do Ministério da Aeronáutica e nas proximidades do 8º Grupamento de Pára-Quedistas e da Escola de Material Bélico do Exército.
O objetivo da operação foi "apreensão de armas em situação irregular e tráfico de entorpecentes", segundo o mandado de busca e apreensão com autorização de arrombamento.
O verso do mandado, obtido com exclusividade pela Folha, traz as assinaturas de cada um dos proprietários dos apartamentos revistados.
O mandado, assinado pelo juiz de direito Marco Aurélio dos Santos, do plantão extraordinário do Tribunal de Justiça do Estado, determinava "busca e apreensão" no apartamento número 301 do bloco 2 do condomínio.
Nesse apartamento moram o sargento aposentado da Aeronáutica Willkings Gomes, 64, sua mulher, Maria de Lourdes Gomes, 55, seu filho Márcio Gomes, 25, sua filha Elisabete Gomes, 30, e três netas (6, 10 e 12 anos).
"Os soldados estavam encapuzados e ameaçaram arrombar a porta. Eu estava deitado e eles me desrespeitaram, ordenando que eu calasse a boca. Eu só queria proteger minhas netas que estavam no quarto", afirmou Willkings, que dormia na sala do apartamento com a mulher.
Michelle, 12, uma de suas netas, relata que os militares invadiram o quarto em que dormia com as irmãs. "Minhas irmãs estavam chorando e eles apontaram as armas para mim, mandando que eu calasse a boca", disse.
Márcio Gomes foi chutado por um dos militares, segundo o relato da família. Elisabete, mãe das meninas, foi barrada na porta do edifício quando chegava em casa.
Maria de Lourdes afirmou que os soldados revistaram tudo e foram embora "sem sequer um pedido de desculpas".
Segundo ela, "os militares se enganaram de endereço. Quem eles queriam estavam ao lado".
O apartamento número 303 do mesmo bloco teve a porta arrombada e seus dois moradores foram presos. Os vizinhos não quiseram identificá-los e disseram não saber se eram militares.
Alguns dos vizinhos, que preferiram não dar seus nomes, afirmaram que os moradores do apartamento estavam envolvidos com tráfico de drogas, armas e eram atravessadores de peças de carros roubados.
No total, 14 apartamentos do condomínio foram revistados. Em pelo menos mais dois, os moradores, que são cabos da Aeronáutica e estão na ativa, relataram ter sido empurrados pelos militares. Os agredidos preferiram não se identificar.

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