São Paulo, segunda-feira, 28 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo cancela 75 projetos da Sudene

XICO SÁ; FÁBIO GUIBU
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo cancelou nos últimos dois meses 75 projetos irregulares da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste).
Estes projetos somam cerca de US$ 50 milhões e a maioria deles foi abandonada sem contribuir para o desenvolvimento da região.
A operação "pente fino", adotada pelo general Nilton Moreira Rodrigues, novo superintendente da Sudene, tem o apoio da CEI (Comissão Especial de Investigação) do governo federal.
A maioria dos projetos condenados pertence ao setor agropecuário. São financiados pelo Finor (Fundo de Investimentos do Nordeste), administrado pela Sudene.
Há também, nas irregularidades, empreendimentos da rede hoteleira. Nos últimos 32 anos, a Sudene aprovou o financiamento para a construção de 105 hotéis em dez Estados. Dos US$ 994,9 milhões previstos para a conclusão dessas obras, US$ 353 milhões foram financiados pelo Finor.
Até o dia 30 de junho, 60 desses empreendimentos estavam concluídos. O custo global dos projetos somou US$ 685 milhões.
Em todos os casos de cancelamento, os empresários captaram recursos, mas não os aplicaram corretamente, provocando atraso na implantação dos projetos.
Outro fato chamou a atenção do governo e reforçou as suspeitas sobre as operações Sudene/Finor.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) decidiu recentemente investir mais recursos nos projetos, desde que houvesse auditoria para medir suas capacidades.
Sobrevivência
A revelação das irregularidades acontece quando a própria sobrevivência do órgão está em jogo.
Estudos do Ministério do Planejamento, comandado pelo tucano Beni Veras (CE), avaliam que a autarquia não faz mais sentido da maneira como atua.
Veras já defendeu no passado a extinção da Sudene. Sua idéia seria anexar o Finor ao BNB (Banco do Nordeste do Brasil)
No próximo dia 7, o ministro se reúne com os governadores do Nordeste para discutir o assunto.
O documento "A reforma do Estado", preparado pelo PFL e entregue a FHC na semana passada, rejeita o fim da Sudene agora.
Empresários, funcionários públicos e setores do PFL do Nordeste montaram uma operação pela sobrevivência da Sudene.
Amanhã, uma comitiva de sindicalistas que defende os servidores da Sudene tem encontro previsto com o presidente da Câmara, Inocêncio de Oliveira (PFL-PE).
Aliados do vice-presidente eleito, Marco Maciel (PFL-PE), também engrossam a corrente pró-manutenção. O PFL espera contar também com o PMDB nordestino.
Entre os políticos de Recife já surgiu um nome que poderia fazer parte de uma articulação interestadual para manter a Sudene: o economista e empresário pernambucano Roberto Vianna. Vianna tem o apoio do senador José Sarney, de aliados de Maciel, de parte do PMDB e do governador eleito do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB).
Um inquérito da Procuradoria da República do Ceará apontou, em 91, irregularidades em projetos imobiliários do grupo de Jereissati.
O grupo foi acusado de usar notas fiscais "frias" para justificar aplicação de recursos em projetos financiados pelo Finor. O inquérito foi arquivado.
Jereissati nega qualquer prática de irregularidade com os recursos.
Outros 170 projetos de empresários do Nordeste foram também acusados pelo Ministério Público.
A maioria dos empresários envolvidos, segundo a Procuradoria, fazia parte de uma "quadrilha" que comprava notas falsas.
Colaborou FÁBIO GUIBU, da Agência Folha, em Recife

Texto Anterior: Verde critica governador
Próximo Texto: Metade dos Estados é inviável, diz socióloga
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.