São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 1994
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Alerta uruguaio

A recente eleição do Uruguai merece uma avaliação mais detida tanto pelas novidades que trouxe para o cenário político do país quanto pelo impacto que pode ter para o Mercosul e portanto para o Brasil.
Nação de arraigada tradição bipartidária, o Uruguai há tempos tem seu governo alternando entre "blancos", um pouco mais liberais, e "colorados", um pouco mais social-democratas.
Embora o pleito de domingo pareça não fugir à regra das eleições mais recentes –o blanco Lacalle é substituído pelo colorado Sanguinetti, que por sua vez o antecedeu–, esse resultado escamoteia uma transformação: o surgimento de uma nova força capaz de competir com as duas legendas históricas. Juntando 28 grupos de esquerda e centro-esquerda, a coligação Encontro Progressista amealhou cerca de 30% dos votos para a Presidência e para o Senado.
Tanto os colorados de Sanguinetti quanto a Frente Ampla criticavam duramente os cortes de gastos do governo –inclusive sociais e previdenciários– defendidos pela atual gestão no seu programa de abertura e modernização da economia. Com mais de dois terços dos votos conferidos aos opositores dessa posição, os uruguaios deram uma verdadeira guinada para longe do liberalismo que governou o país nos últimos cinco anos.
É nesse sentido aliás que o resultado do pleito uruguaio mais interessa ao Brasil. O discurso antiliberal de Sanguinetti foi marcado por um nítido protecionismo que pode no limite afetar o ritmo de integração do Mercosul ou sua amplitude –traduzindo-se, por exemplo, numa maior quantidade de exceções. Mas mesmo eventuais medidas nesse sentido tendem a ser apenas pontuais, já que o futuro da economia do Uruguai está irreversivelmente vinculado ao Mercosul.
Os resultados de todo modo vêm ratificar uma tendência que se verifica em vários países da América Latina, de crescimento de forças da esquerda. É o alerta de que, nestas partes do mundo, a questão social continua prioritária demais para ser relegada a segundo plano.

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