São Paulo, quinta-feira, 1 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Aidético processa irmãos por rejeição

Projetista quer receber herança

SILVIA QUEVEDO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

O projetista Guilherme da Silva, 36, está processando seus quatro irmãos, que o teriam abandonado quando os sintomas da Aids surgiram.
"Eles bagunçaram comigo. Todos os meus irmãos foram coniventes com meu abandono", afirmou.
No quarto 13 da ala cinco do Hospital Nereu Ramos, em Florianópolis, Guilherme diz que sente muito ter que recorrer à Justiça para garantir seu direito de receber uma parte dos bens da família, depois que os pais morreram.
A ação foi impetrada, segundo ele, para garantir algum dinheiro ao tratamento da filha Alessandra, 3, que já apresenta os sintomas da doença.
Ele também pretende, com o dinheiro, conseguir um lugar para morar "tranquilo, onde possa meditar, orar e me preparar". Uma parte será ainda doada ao Gapa (Grupo de Apoio e Prevenção à Aids).
Ele contraiu o vírus por uso de droga injetável, transmitiu à mulher e a filha.
A mulher, que não desenvolveu a doença, mora com a filha no interior do Estado. Segundo Guilherme, seu pesadelo começou há dois anos, quando viajou para passar o Natal com a família da mulher.
Ele diz que passou então a dormir na frente da casa dos irmãos e da mãe, onde viveu desde os 15 anos, quando foi adotado pelo pai, supostamente legítimo.
"Via meus irmãos chegando de noite em casa de carro. Era aquela festa, todos comendo, enquanto eu trocava a roupa ao avesso e dormia em cima de papelão. Fui adoecendo, suportei até ouvir de uma advogada que não podia morrer na rua."
O irmão de Guilherme, Norberto Domingos da Silva Filho, disse que "ele está se fazendo de vítima". "Houve rejeição, não nego. Mas ele não é o único, tem mais de mil casos no mundo inteiro."
Segundo Norberto, o irmão "receberá de acordo com a lei, que depende de prazos".
Sentado numa cadeira de rodas pois a doença já atingiu a medula, Guilherme diz que quer adquirir mais nada. "Tem sido difícil perdoar minha família, mas vou perdoar."

Texto Anterior: Doença pode deixar 5,5 mi órfãos até 2000
Próximo Texto: Encontro em Paris discute combate a HIV
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.