São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994
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Cardeal diz que ação 'melhorou' o Rio

RICARDO FELTRIN; VICTOR AGOSTINHO
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO E

O cardeal-arcebispo do Rio, d. Eugênio Sales, disse ontem que a operação antiviolência "melhorou visivelmente" o Rio.
A declaração foi feita durante a cerimônia de abertura da 34ª Feira da Providência, no Riocentro.
Segundo d. Eugênio, a situação da violência na cidade antes da chegada dos militares era "insuportável e insustentável". "Sou favorável ao trabalho que está sendo feito pelo Exército." Para o cardeal, o sucesso da operação antiviolência vai depender das decisões e da articulação entre os governos federal e estadual até o término do acordo (dia 30).
"Mas só vamos ter idéia dos resultados da operação quando as Forças Armadas saírem", disse.
O cardeal não quis dizer se é favorável à permanência do Exército nos morros, com a renovação do acordo da operação no Rio.
Sobre as denúncias de tortura, d. Eugênio disse: "Toda tortura é infame, mas é preciso em primeiro lugar saber se ela ocorreu ou não". Há denúncias de agressões contra quatro moradores da favela do Borel. "Se houve falhas, o comando da operação deve corrigi-las."
O padre Olinto Pegoraro, 60, pároco da igreja São Sebastião, que foi utilizada pelo Exército na semana passada durante ação no morro do Borel, agendou para o dia 7 uma reunião com d. Eugênio Sales. Pegoraro vai comunicar pessoalmente ao cardeal que o Exército teria torturado moradores da favela dentro da igreja.
D. Eugênio Sales estava em Roma semana passada assistindo a ordenação pelo papa de 30 novos cardeais. Pelo telefone, de Roma, o cardeal disse à Folha anteontem que não acreditava que o Exército havia torturado moradores.
Pegoraro disse ontem à Folha que tem com o cardeal "divergências hermenêuticas (de interpretação) quanto a aplicação da fé e a realidade vivida pelas pessoas. Temos leituras diferentes sobre o morro do Borel". Pegoraro disse também que quer um "diálogo positivo com o cardeal".
(Ricardo Feltrin e Victor Agostinho)

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