São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994
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O impasse cambial

LUÍS NASSIF
O IMPASSE CAMBIAL

As saídas para a política cambial constituíram-se no tema recorrente, no seminário promovido ontem pelo Banco Central, no Rio de Janeiro, sobre Gestão de Capitais Estrangeiros.
Presente ao encontro, o diretor de Relações Internacionais do BC, Gustavo Franco, deu pequena amostra dos problemas decorrentes dessa situação inédita –de, pela primeira vez na sua história, o país ter que conviver com superávit em contas correntes.
Economistas de idéias claras, capacidade operacional e conhecimento aprofundado de história da economia –especialmente de fenômenos monetários e cambiais– Franco relacionou quatro estratégias conhecidas de se enfrentar o problema, para mostrar as dificuldades de se alterar o jogo.
A primeira consistiria na abertura total do mercado, deixando a taxa encontrar por si só o ponto de equilíbrio. Sem dispor de uma economia sofisticada, a China recebeu US$ 45 bilhões de investimentos diretos no últimos ano. Se não criasse restrições ao capital estrangeiro, o afluxo jogaria a taxa brasileira para níveis maiores ainda do que os atuais, previu.
Lembrou o caso holandês. A descoberta de um grande lençol de gás natural provocou tamanha entrada de dólares no país, que a apreciação da moeda local praticamente inviabilizou todas as exportações restantes.
México e Argentina passaram por processo semelhante. Hoje o México tem um déficit em conta corrente da ordem de 10% do PIB –o dobro do Brasil na sua pior fase– e sua situação já inspira cuidados.
A segunda alternativa seria proceder como a Colômbia, quando ocorreu o boom cafeeiro. O aumento do ingresso de divisas, via mercado de café, também apreciaria o câmbio, a ponto de inviabilizar as demais exportações. Recorreu-se a um imposto sobre exportações que equilibrou o jogo.
No caso brasileiro, como a entrada de dólares se dá via mercado financeiro, a alternativa seria instituir IOF sobre o ingresso de recursos. Mas de maneira parcimoniosa.
A terceira via seria o estímulo ao investimento de empresas brasileiras no exterior. Foi o caminho percorrido pelo Japão nos anos 70, quando a apreciação do iene levou-o a incentivar investimentos na Coréia, especificamente para a área têxtil.
Mas corre-se riscos se o processo não for bem cuidado. Nos anos 80, Martinez de Hoz permitiu fuga de capitais na Argentina, via setor privado, e a crise explodiu como uma bomba-relógio anos depois.
O quarto caminho seria a dolarização pura e simples, com todos os inconvenientes de uma jurisdição monetária paralela.
Nenhum desses caminhos resolve por si –insiste Gustavo Franco. A única alternativa no curto prazo é efetuar um mix de algumas dessas saídas, como o BC vem fazendo.
Um homem sério
Conheci Adolpho de Oliveira no início dos anos 80, quando estourou um escândalo devido à venda de ações da Vale do Rio Doce por parte do governo, para salvar o presidente da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro de um córner. Adolfo foi um dos dois conselheiros que reagiram energicamente à manobra, pedindo inclusive demissão de seu cargo em protesto.
Seu pequeno banco quebrou há duas semanas, por problemas de descasamento entre ativos e passivos.
Faleceu na manhã de ontem, no Rio de Janeiro, vitimado por um ataque cardíaco. Antes, colocou todo seu patrimônio à disposição dos credores. O patrimônio de seriedade ele leva incólume com ele.

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