São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mais um ano com Aids

Passou-se ontem mais um Dia Mundial de Luta contra a Aids sem que nenhuma grande novidade no campo científico trouxesse maiores esperanças para os milhões de infectados pelo vírus HIV. Pelo contrário, as notícias que chegam a respeito da doença são desoladoras.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) calcula que, a cada 24 horas, 6.000 pessoas sejam infectadas pelo vírus. Até o fim do milênio, os contaminados deverão ser 40 milhões, sendo 10 milhões de crianças.
Diferentemente de outras moléstias fatais como alguns tipos de câncer, a Aids traz consigo um terrível estigma, um fardo a mais que pode aniquilar a alma daqueles que já estão debilitados de corpo.
A Aids surgiu no início dos anos 80 apelidada pelos jornais sensacionalistas de "peste gay". De fato, homossexuais masculinos, hemofílicos e viciados em drogas injetáveis constituíam os grupos de maior incidência relativa. Mas o perfil epidemiológico da doença vem-se alterando e, à medida que a moléstia se alastra, o termo "grupo de risco" faz cada vez menos sentido.
Esse fenômeno, contudo, não bastou para retirar o estigma associado à Aids, de modo que os que padecem da doença ou carregam o vírus são frequentemente vítimas de virulento preconceito, abandonados pela família e por amigos, como se a culpa de estar doentes fosse deles mesmos.
Pior até, a idéia rapidamente disseminada de que a Aids atingia apenas os que se incluíam na categoria de grupo de risco deu a muitas pessoas uma falsa sensação de segurança. Pensava-se: "Não sou homossexual nem hemofílico e não uso drogas injetáveis, logo, por que me preocupar?". O custo desse tipo de comportamento pode ser facilmente verificado nos números da doença, que já pode ser classificada como uma pandemia.
No estágio atual das pesquisas, a Aids não tem cura e é fatal. Só existem dois remédios. Para quem não contraiu o vírus, a prevenção –leia-se, o uso de preservativos e seringas descartáveis e o atento controle do sangue e de seus derivados. Para os que já foram infectados, a solidariedade.

Texto Anterior: Os calendários de Lucena
Próximo Texto: Extinção decidida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.