São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994
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Do thriller ao documentário

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Acompanho há dias uma valiosa discussão sobre a imprensa da era Fernando Henrique. O debate vem sendo travado nas páginas da Folha em sucessivos artigos.
Apesar da qualidade dos debatedores –Clóvis Rossi, José Serra e Luís Nassif, sem mencionar um editorial do próprio jornal–, decidi aventurar-me no tema, ainda que com menos brilho.
Formou-se um sólido consenso: os jornalistas seriam submetidos a uma dieta de manchetes. Cadenciado, o Brasil de Fernando Henrique levaria sossego às normalmente elétricas páginas dos jornais.
Faço aqui, como se costuma dizer, o papel de advogado do diabo. Noto que os articulistas partem de premissas, senão falsas, pelo menos pendentes de comprovação.
A teoria da morte das emoções pressupõe o êxito do Plano Real, diminui o peso das contradições entre Fernando Henrique e seus aliados e desconsidera a manutenção do ambiente de crise no país.
Parece evidente que houve uma mudança. Não teremos mais o apocalíptico ambiente da era Collor. Tampouco veremos reprisado o atabalhoamento do início da gestão Itamar. Mas isso não basta para que decretemos o fim da crise.
Trocamos o balanço frenético de um thriller policial pelo arrastado ritmo de um documentário. É cedo, porém, para prevermos a qualidade do filme a ser produzido por Fernando Henrique.
Impossível esquecer que o roteiro incorpora personagens conhecidos: PFL, PTB, PL, PMDB... Diz-se que mudaram. Como acreditar sem ver?
Recorde-se ainda que a estabilidade da moeda está condicionada à aprovação de um portentoso conjunto de reformas.
De resto, o filme está sendo rodado num cenário que ainda incorpora elementos do caos: a educação pífia e o sistema de saúde inexistente, por exemplo.
Torço para que Rossi, Serra e Nassif tenham razão. Mas, de minha parte, prefiro esperar pelo início da apresentação do filme.

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