São Paulo, terça-feira, 6 de dezembro de 1994
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Amostra de Collor

JANIO DE FREITAS
AMOSTRA DE COLLOR

Decorridos dois anos, dois meses e oito dias do seu afastamento da Presidência, Fernando Collor afinal será levado amanhã ao banco dos réus, para um julgamento cuja tendência perceptível é dividir o Supremo Tribunal Federal, impondo-se a condenação –se confirmada– por pequena maioria.
O período entre o início do processo e o julgamento é absurdamente longo, como é próprio da Justiça brasileira. Mas, no caso, contribuiu para assegurar o julgamento sem maiores pressões emocionais e políticas. O STF tem tomado decisões de sentido muito mais político do que jurídico, mas, se isso voltar a acontecer agora, será por responsabilidade só dos magistrados, não de circunstâncias influentes.
Embora os quase 150 volumes do processo, o esquema de corrupção do governo Collor continua longe da sua revelação menos fragmentada. Basta observar um dos alicerces da acusação preparada pela Procuradoria Geral da República, que é a nomeação de um certo Marcelo Ribeiro para dirigir o setor rodoviário do governo –a então Secretaria Nacional de Transportes, incumbida de obras e transportes interestaduais.
Durou pouco esse diretor, forçado a afastar-se como personagem central do primeiro caso de negociata evidente. Mas quem era ele, de onde vinha? Era diretor da empreiteira Tratex. E que empreiteira é essa? Contumaz frequentadora de casos comprovados de fraude, superfaturamento e outras indecências, foi uma das empresas abastecedoras da caixa de Collor e PC Farias. Mas não só isso. O banco de sua propriedade, o Rural, foi o centro das operações de "contas-fantasmas". A conjunção Collor/PC/Tratex/Rural tem as evidências, se combinadas todas as suas partes, de uma rede que não chegou a ser investigada como tal.
A oportunidade da grande investigação foi perdida. Em parte, pela ansiedade de solução política. Em parte, pelo temor das dimensões que a parcela investigada já indicava para o esquema, com penetrações cuja amplitude parecia, desde logo, capaz de causar um abalo de proporções incontroláveis no capitalismo brasileiro.
Quem se sentará amanhã no banco dos réus não é Fernando Collor por inteiro. É só uma parte dele. Pequena, com certeza.

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