São Paulo, terça-feira, 6 de dezembro de 1994
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Combinação de drogas elimina paralisia

CLÁUDIO CSILLAG
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

"Os animais! Os animais estão andando!".
Essas palavras, que acordaram o cientista Eugene Roberts em sua casa, na Califórnia, foram ditas por um outro pesquisador, que assistia a recuperação de movimentos de um grupo de ratos de laboratório.
Dias antes, os animais tinham sofrido lesões na medula da espinha e tinham ficado paralíticos.
A recuperação de movimentos significa que Roberts e sua equipe conseguiram reverter o quadro de paralisia decorrente de lesões na medula espinhal em animais.
"A recuperação ocorreu graças a uma combinação nova de drogas já bem conhecidas", disse Roberts à Folha. O cientista, do Instituto Beckman de Pesquisa, em Duarte, Califórnia, publica hoje os resultados do trabalho na revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.
Os animais sofreram lesões controladas na medula, provocadas por um pinçamento.
"No homem, elas equivalem a lesões resultantes de quebra de vértebra, como as que ocorrem em acidentes de automóvel ou numa queda", disse Roberts.
Após as lesões, os animais ficaram paralíticos, incapazes de andar ou mesmo ficar de pé.
Em seguida, os cientistas aplicaram diferentes tratamentos.
Os outros animais receberam as drogas isoladamente e em combinações de duas, ou ficaram sem receber nada.
Dez dias depois, a função motora dos que receberam as três drogas havia se recuperado mais do que a dos outros.
"Mas os resultados mais extraordinários foram registrados após 21 dias. Dos 16 que receberam o tratamento, 11 podiam ficar de pé e andar, e 4 deles quase que normalmente."
A recuperação foi constatada em seguida na análise microscópica dos nervos.
Roberts e seus colegas explicam o efeito do tratamento em parte por sua ação sobre a resposta inflamatória do organismo.
A lesão desencadeia uma série de mecanismos reparatórios, que, conjuntamente, constituem a inflamação. "Mas muitas das reações envolvidas acabam danificando ainda mais o nervo", diz Roberts.
A terapia modificou o padrão das reações. Os cientistas desconfiam que ela tenha aumentado a participação de células nervosas e diminuído a de células vizinhas. A reação do organismo teria ficado, portanto, menos danosa ao nervo.
A terapia foi aplicada apenas em animais, e os cientistas não têm nem previsões sobre quando ela poderia começar a ser testada no homem. "Ela precisa ainda ser estudada em outros animais".

Mais informações podem ser obtidas no artigo original, publicado à pág. 12308 da revista da academia. Enviar pedidos a Lloyd Guth (outro autor do estudo). Endereço: Department of Biology, The College of William and Mary, Williamsburg, Virgina, 23187, Estados Unidos.

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