São Paulo, terça-feira, 6 de dezembro de 1994
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Namorado ajudava nas lições de casa

CAROLINA CHAGAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Josimeire Ribeiro da Silva e José Mizael Vaz dos Anjos se conheceram em uma festa de aniversário. Começaram a namorar "trocando olhares" e "cartas de amizade".
No início do namoro, Anjos a ajudava com as lições de casa –Josimeire tinha 11 anos. Disse que tentou lutar contra a idéia de "namorar alguém tão mais nova", chegou a viajar para tentar esquecê-la, mas depois descobriu que a "amava de verdade".
Oito meses depois, a estudante contou aos pais sobre o namoro. Anjos já conhecia a avó de Josimeire de um centro espírita que ele dirige.
O namorado, que é supervisor de segurança de um banco, diz que "foi amor à primeira vista". "Eu preservei tanto a minha namorada e nunca esperei que terminasse assim. Sexo, ela aprende depois", diz Anjos.
Os dois decidiram apressar o casamento porque a avó de Josimeire está com câncer e o pai de Anjos piorou da diabetes.
"Queríamos fazer tudo como se deve", conta Anjos. "Casar no papel e subir juntos ao altar."
A mãe de Josimeire, Rosemary Ribeiro da Silva, diz que é costume na sua família "casar-se cedo". "Eu também me casei com 15 anos e entendo o impulso da minha filha."
O pai José Almir Lisboa da Silva, 30, é sete anos mais novo que o namorado da filha. Mesmo assim é a favor do casamento. "Acho que ainda está meio cedo, mas se ela quer o que posso fazer?", diz. "Eu também me apaixonei pela mãe dela, sei o que ela está sentindo."
Silva diz não ter entendido as razões do juiz. "O que ele queria? Que minha filha aprontasse antes de casar? Será que é assim que ele cria as filhas dele?"
Igreja
No caso de Josimeire, Beltrame acredita que deveria ser feita uma análise do caso antes de acertar a data.
"Em um caso destes, a Igreja tem de se certificar de que está colocando na sociedade um casal preparado para assumir as responsabilidades que lhe serão impostas e ser útil."
Situação perigosa
Para a sexóloga e deputada federal pelo PT, Marta Suplicy, "a situação é complicada e é difícil dizer quem tem razão".
Ela acredita que os pais, muitas vezes, ficam aliviados em casar suas filhas para livrar-se de situações "perigosas", como o caso de perder a virgindade se envolvendo com um homem mais velho.
Marta acretida que o juiz está de acordo com os tempos em que vivemos. "Hoje em dia seria viável algo que na época de nossas avós seria um escândalo, um casal morar junto ou ter uma experiência sexual antes do casamento."
(CC)

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