São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Quem paga a conta

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Graças ao passo de tartaruga do Judiciário, o julgamento da dupla Collor-PC ocorre quase que simultaneamente à prestação de contas dos partidos que disputaram as últimas eleições.
Incorpora-se novamente à agenda do país um tema que, entre nós, insiste em manter-se atual: a promiscuidade financeira que pauta o relacionamento entre políticos e grandes empresas.
Parece evidente que o Congresso terá de rever, pela enésima vez, a legislação eleitoral. A sistemática dos bônus, como previsto, foi inócua. Conheceram-se os nomes dos doadores só depois de abertas as urnas.
Esclareça-se, de saída, um ponto: não há eleição sem dinheiro. Não estamos mais na República Velha, época em que apenas 1% da população votava. Hoje, para difundir sua mensagem, o candidato tem de organizar comícios, produzir programas de TV e contratar de cabos eleitorais a assessores graduados.
E se há dinheiro, é preciso que saia de algum lugar. Há duas alternativas: ou a eleição é financiada pelo Estado, como na Alemanha, ou pela iniciativa privada, como nos Estados Unidos.
Os dois sistemas têm vantagens e desvantagens. O modelo público parece mais adequado. Mas mesmo o financiamento privado poderia ser admitido, desde que adotado às claras.
Este não é, em definitivo, o caso do Brasil. Embora esteja na raiz do Collorgate, a chamada caixinha de campanha não foi inventada por PC Farias. Difícil localizar a sua origem no tempo. É possível que tenha nascido com Adhemar de Barros.
Engordada no escuro, bem à moda brasileira, as contribuições de campanha, que hoje irrigam até as contas do ex-puro PT, instalaram no coração do Estado a usina de corrupção que derrubou Collor e, mais recentemente, levou ao cadafalso uma penca de parlamentares.
Diz-se que o Estado brasileiro não teria caixa para bancar os gastos de campanha. Tolice. Na ponta do lápis, a eleição deve sair mais barata do que a conta que o empresariado costuma apresentar aos eleitos.

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