São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Sim e não

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – No último domingo o Exército prestou, sim, um favor ao Rio ao proibir o funcionamento da feira de Acari, a popular "Robauto", que até em música de Jorge Ben já apareceu.
OK, a feira era um acinte, uma desfaçatez. Afinal, centenas de pessoas se reuniam todos os domingos para comprar e vender peças roubadas de automóveis.
A feira sempre foi notória, todo mundo sempre soube que ali se comercializavam mercadorias roubadas.
Há até casos de gente que, na feira, encontrou para comprar componentes de seu próprio automóvel, que fora roubado.
Se sempre foi assim, por que então ter que esperar a presença do Exército para acabar com a famigerada feira? É função do Exército coibir comércio ilegal de autopeças?
Esta é, na verdade, a questão central de tudo o que vem acontecendo até agora no Rio: o Exército faz um bem para a cidade ao fazer aquilo que não deveria.
Reside neste paradoxo a constatação mais óbvia: a falência do Estado, do poder público e dos mecanismos sociais de proteção da cidadania.
É preciso colocar em risco o Estado de Direito –ao se colocar o Exército no papel de polícia– para se garantir este mesmo Estado de Direito?
A democracia brasileira é incipiente, imatura e frágil. A operação militar no Rio de Janeiro –ex-capital, segunda cidade do país, cartão postal da brasilidade– só confirma isso.

Em debate realizado na Folha, Alfredo Sirkis foi ao ponto: é preciso se discutir urgentemente a descriminalização das drogas.
O traficante é poderoso e temido porque pratica um comércio milionário. Tem poder de fogo como poucos. Só a descriminalização seria capaz de reduzir esse poderio.
O combate militar às drogas é uma estratégia questionável que os Estados Unidos praticamente impõem aos seus "parceiros" da América Latina.
Mas diante da ineficácia desse método, as correntes mais progressistas dentro dos próprios EUA debatem hoje a necessidade da descriminalização.

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