São Paulo, quinta-feira, 8 de dezembro de 1994
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Ilhas Samoa preservam as tradições polinésias

Uso de saias coloridas e tatuagens vigora no arquipélago

SILVIO CIOFFI
DO ENVIADO ESPECIAL A SAMOA, HAVAÍ E ESCÓCIA

Nas aldeias do arquipélago de Samoa, hoje dividido em Samoa Ocidental e Samoa Americana, nada parece ter mudado.
Samoanos ainda se vestem com um pano florido amarrado na cintura (os "lava-lava"), usam folhagens e flores como adorno e navegam em canoas que inspiraram os modernos catamarãs.
O estilo de vida que chamam orgulhosamente de "Faá Samoa" é regido pela mesma cultura que, entre os anos 400 e 850, povoou o Havaí, até então desabitado.
Samoa talvez seja um dos poucos lugares do mundo onde os shows de dança com fogo ainda tenham um quê de autenticidade.
Tatuar os meninos dos joelhos até a cintura com desenhos de cor negra também não saiu de moda.
Cortado com goivas e instrumentos de osso serrilhado, o adolescente samoano arde em febre.
A tatuagem –ou "pe'a"– venceu o preconceito dos missionários brancos e, para os nativos, persiste com símbolo de coragem.
E é essa cultura nativa desconhecida dos europeus até a chegada do holandês Jacob Roggeveen, em 1722, que encantou escritores como Stevenson.
Um século depois da morte do escritor que os nativos chamavam de "Tusitala", o estrangeiro (ou "papalangi") ainda encontra no arquipélago uma sociedade orientada pela tradição polinésia.
Para isso tem que cruzar o Pacífico até a Samoa Americana (leia texto sobre o vôo na pág. 6-9) e, de lá, aventurar-se num avião minúsculo até Samoa Ocidental.
As duas Samoas são como Coréia do Sul e Coréia do Norte: têm idêntica origem étnica, mas são politicamente divididas.
Em ambas, a parte central de cada vila ("nu'ú") ainda tem cabanas abertas para recepção de forasteiros ("Faletalimano").
Nessas vilas o grupo de famílias ("aiga") é chefiada por um "'matai", que representa a família no conselho de tribos ("fono").
A antropofagia foi prática abandonada no século passado e as histórias de Stevenson se referem à chefes canibais com a mesma frequência com que descrevem cerimônias de dança, praias e funerais.
A despeito da saúde precária, Stevenson viveu em Samoa entregue ao trabalho literário e ao fascínio de uma cultura e uma paisagem que um século de transformações e guerras mundiais não conseguiram destruir.(Silvio Cioffi)

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