São Paulo, quinta-feira, 8 de dezembro de 1994
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Precariedade e atraso são lado bom de Pago-Pago

SILVIO CIOFFI
DO ENVIADO ESPECIAL A SAMOA, HAVAÍ E ESCÓCIA

Escala obrigatória para quem vai de avião até Samoa Ocidental –porção independente do arquipélago samoano, onde o escritor Robert Louis Stevenson morou e está sepultado–, Pago-Pago é um desses lugares impagáveis.
O aeroporto da capital do território da Samoa Americana é um barracão. Em sua precária esteira rolante, passageiros disputam a bagagem como quem aposta numa rinha de briga de galos.
Visitantes são "avis rara" nesse paraíso polinésio.
Pago-Pago, que dista 3.700 km a sudoeste do Havaí, adota rigoroso controle de passaporte e não é raro os funcionários da imigração reterem o documento sem dar qualquer recibo.
Aí o turista não pode trocar cheques de viagem, se sente refém e acaba aproveitando pouco a estada na Samoa Americana.
Progresso é palavra de significado vago para samoanos nas ilhas que formam o território norte-americano e na Samoa Ocidental.
E talvez esse seja o lado bom dessa viagem difícil por uma região ainda remota.
Nas aldeias ainda se vive de acordo com o preceito dos chefes e é proibido erguer uma casa mais alta que o mais alto dos coqueiros.
A cidade de Pago-Pago, principal aglomerado urbano desse que é o único território norte-americano ao sul do Equador, está localizada dentro de uma imensa cratera vulcânica que o tempo e a erosão transformaram em baía.
É lá que ficam o aeroporto, o porto e o Rainmaker (ou "fazedor de chuva"), único hotel "oficial" de Pago-Pago.
Imensa cabana construída com técnica tradicional da Polinésia, o Rainmaker seria um hotel de sonho não fossem os ratos do tamanho de gatos que correm em seus corredores mofados.
Uma floresta densa e úmida reveste a cratera de Pago-Pago e está intocada. As montanhas terminam em picos pontudos como agulhas e têm fendas enormes, onde a luz do sol é substituída por sombras e que servem de hábitat para lagartos, morcegos e macacos.
A Samoa Americana é formada por sete ilhas que somam 197 km2. Tem cerca de 35 mil habitantes, muitos deles vindos de Samoa Ocidental.
A estrada existe apenas em redor de algumas das ilhas e as praias só são frequentadas por uns poucos meninos que nadam nus.
Os nativos ainda se utilizam de lanças primitivas para pescar nas rasas piscinas naturais repletas de polvos e peixes tropicais.
Mas há a pesca comercial de atum controlada por norte-americanos de origem portuguesa, chineses de Taiwan e sul-coreanos em embarcações de 1,2 tonelada que valem até US$ 13 milhões.
Principal fonte de renda do território, o atum é enlatado em Pago-Pago ou exportado para o Japão, onde vale US$ 5 mil a tonelada. (Silvio Cioffi)

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