São Paulo, sexta-feira, 9 de dezembro de 1994
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Weffort diz a Lula que quer ser ministro de FHC

CARLOS EDUARDO ALVES; FERNANDO DE BARROS E SILVA

O cientista político Francisco Weffort disse ontem a Luiz Inácio Lula da Silva em encontro reservado que aceitará um eventual convite para assumir o Ministério da Cultura no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Lula pediu a Weffort, filiado ao PT, que procure a direção do partido para tratar de sua situação caso se confirme o convite.
Weffort só espera a oficialização de sua indicação para encaminhar o pedido de saída do partido.
Lula e Weffort almoçaram ontem no restaurante Los Molinos, no bairro do Ipiranga.
"Se for convidado pelo Fernando, estudarei com muito carinho", disse Weffort na saída do encontro. Lula evitou comentar publicamente o assunto do almoço.
"Sobre o ministério, falem com o Chico (Weffort) e sobre a decisão do PT procurem o Rui Falcão ou o Gilberto Carvalho", disse Lula, referindo-se ao presidente e ao secretário-geral do PT.
Falcão afirmou que, se for procurado por Weffort, sua prioridade é tentar convencê-lo a não ir para o governo tucano. "Se isso não for possível, minha expectativa é que ele tome a iniciativa de se desfiliar", declarou Falcão.
Lula e Weffort querem evitar que a ida do cientista político para o governo detone uma nova crise no PT, como a que envolveu a ex-prefeita Luiza Erundina quando aceitou participar do governo Itamar à revelia do partido.
Lula quer resolver logo a questão. Ele teme que os grupos de extrema esquerda aproveitem a ida de Weffort para o governo para combater o tom cordato de oposição que pretende ver adotado pelo PT.
Weffort foi secretário-geral e secretário de Relações Internacionais do PT.
A preocupação maior de Lula é que a ida de Weffort para a equipe de FHC não seja confundida com uma adesão do PT ao governo.
No almoço de ontem, do qual também participaram assessores de Lula e Heiguiberto Navarro (presidente do Sindicato dos Metalúrgicos ABC), Lula e Weffort recordaram viagens que fizeram juntos ao exterior.
Weffort, que tem um contrato assinado para passar o primeiro semestre de 95 na universidade de Stanford (EUA) como professor visitante, admite cancelar a viagem se for convocado por FHC.
Reservadamente, ele sustenta que o fato de estar filiado ao PT não será motivo para recusar o convite. Se for preciso, se desfilia do partido, embora prefira a hipótese de um afastamento temporário.
A ligação de Weffort com o PT não é das melhores desde a campanha presidencial. Embora seja muito ligado a Lula, Weffort se distanciou do partido durante a campanha, chegando a faltar em reuniões de intelectuais que apoiavam a candidatura petista.
O nome de Weffort como alternativa para a Cultura surgiu na cabeça de FHC como forma de contornar os lobbies e pressões que costumam perseguir a pasta.
Weffort não está ligado a nenhum grupo de pressão, como estão por exemplo a atriz Ruth Escobar e o cineasta Arnaldo Jabor, já cogitados para o cargo.
Além disso, FHC fez a chegar a Weffort que quer dar ao Ministério da Cultura um novo status, aproximando-o da pasta da Educação. Por ser um nome da academia, Weffort se encaixaria neste perfil.
No aspecto político, a inclusão de Weffort no ministério ajudaria FHC a dar à sua administração um nome historicamente ligado à esquerda e um dos principais formuladores do PT.
Pesa também na eventual escolha do cientista político para a Cultura o discurso que fez durante o seminário de intelectuais realizado em Brasília.
Weffort disse na ocasião que a eleição de FHC representa uma "nova revolução democrática para o Brasil, como a que foi feita em 1930". O discurso agradou o presidente eleito, que elogiou entre amigos a "lucidez" do colega de academia.

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