São Paulo, sexta-feira, 9 de dezembro de 1994
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Para Bacha, abertura cambial é irreversível

Assessor diz que empresas terão crédito de longo prazo

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O assessor especial do Ministério da Fazenda, Edmar Bacha, desafiou as empresas sediadas no Brasil a se prepararem para enfrentar a concorrência externa "não somente lá fora mas também dentro do país".
Em debate com cerca de 300 empresários durante almoço na Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo, Bacha deixou claro que o futuro governo FHC não vai reverter a política de abertura cambial.
"Não adianta espernear porque a lógica do novo modelo de uma economia aberta ao exterior exige que as empresas se reestruturem de forma construtiva", disse.
"As empresas brasileiras vão ter que entrar dentro de uma nova lógica de atuação porque elas cresceram e se desenvolveram com base numa ampla proteção tarifária e cambial e de restrições quantitativas às importações", afirmou.
Bacha disse que os empresários que falam muito em "global sourcing" (a busca de melhores oportunidades de fornecedores em escala mundial) deviam estar abertos também para a perspectiva de "global competition" (competição global).
Bacha arrancou aplausos quando afirmou que o governo vai ajudar a reestruturação das empresas com financiamentos de longo prazo do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico).
"Creio que em vez de ficar brigando com o câmbio, talvez fosse melhor nos juntarmos para pensarmos em reativar os investimentos", disse.
Bacha disse aos empresários que o governo vai criar no país, "sem traumas", um sistema financeiro que permita empréstimos e aplicações a longo prazo.
Ele afirmou ainda que a poupança é "intocável" e "sagrada" e que a TR será mantida pelo tempo necessário para garantir a estabilidade nas relações financeiras.
"Qualquer mudança que houver na TR, se houver, será amplamente discutida com as comunidades financeira, política e de negócios do país", disse.
Bacha disse que o sucesso do programa de estabilização abre o caminho para um "grande pacto" entre o setor público e o setor privado para o aumento da competitividade da economia brasileira.
Afirmou ainda que o próximo governo tem que oferecer ações concretas para a redução do chamado "custo Brasil".
Para tanto, disse, o governo deve se empenhar na redução do número de impostos, simplificação tributária, desregulamentação, redução dos encargos trabalhistas da mão-de-obra e da adoção da taxa de juros de longo prazo compatíveis com as internacionais.
Em resposta à queixa dos empresários sobre o mau estado da infra-estrutura do país, Bacha disse que a provisão da infra-estrutura tem que ser compartilhada entre setor público e setor privado.
Bacha defendeu a retirada das restrições constitucionais à participação do capital estrangeiro na exploração de recursos hídricos e minerais e no setor de telecomunicações.
Segundo ele, a privatização deve avançar nessas áreas depois que o Congresso se dispuser a eliminar as restrições.

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