São Paulo, sexta-feira, 9 de dezembro de 1994 |
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Síndrome de Romário
CARLOS HEITOR CONY RIO DE JANEIRO – Ministério e seleção nacional são emocionantes na hora da escalação. Todo mundo dá palpite, formam-se grupos, a mídia se entusiasma, os bastidores se excitam, calúnias e suspeitas rolam. O futuro governo tem uma comissão técnica: é a equipe econômica que veta ou aprova titulares. E tem um técnico que, como todo técnico em início de gestão, está muito prestigiado.Há uma espécie de Romário –craque cujas qualidades ninguém discute, mas cuja escalação desagrada à comissão técnica e, por baixo do pano, ao próprio técnico. José Serra tem uma vantagem sobre Romário, que só joga na frente. O senador eleito joga em várias posições. Aliás, as feras que disputam o ministério têm em comum essa abrangência. Em 1974, a seleção holandesa dizia-se "polivalente". É isso aí. O sujeito tanto pode ir para a Fazenda como para as Endemias Rurais. Se houver problema mais sério, será o homem certo (desde criancinha) para a embaixada no Vaticano ou na Unesco. Todos podem ser "o que quiser". A todos, o técnico apresentou formalmente a mosca azul: "Conto com você!" A variante é: "Não me abandone!" E há o PT que atravessa o vinagre mais amargo de seus 15 anos –idade da pubescência. Pior do que o caso dos donativos (afinal, sem dinheiro a militância ficaria de bordão e túnica à beira da estrada, pregando o apostolado possível), foi o caso de Weffort. Repetindo a experiência de Erundina, que aderiu como pessoa física ao governo de Itamar para logo ser chutada, Weffort ameaça sair do partido para o Ministério da Cultura. Como pessoa física, logicamente. Por essas e outras, o PT começa a ficar parecido com o PFL: o poder tudo santifica, tudo justifica, tudo embeleza. Faz parte do jogo: a consciência de determinado político entra em choque ideológico com a linha adotada pelo partido. Não é esse o caso de Weffort: ele não deixa o PT porque deixou de pensar como petista. Sai do partido para administrar 0,2% do orçamento nacional. Feitas as contas, esses 0,2% devem equivaler a 30 dinheiros. Texto Anterior: O ódio ao eu Próximo Texto: Para onde vai a política Índice |
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