São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 1994
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Mais que Mercosul

Os processos de integração regional incluem-se no movimento geral de liberalização que já há mais de uma década avança em todo o mundo. O forte crescimento do comércio entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai demonstra que o Mercosul se consolida.
A conjuntura econômica de cada país cria para seus governos as mais variadas pressões. É natural, portanto, que ao longo de quaisquer processos de integração econômica surjam pendências e arestas para corrigir. Por mais importante que seja, a política externa não pode ser, evidentemente, a única prioridade dos governos.
Nessas circunstâncias, o desempenho que o Mercosul vem apresentando é muito satisfatório. Na semana passada, o encontro do ministro da Fazenda, Ciro Gomes, e do ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo, resultou na conclusão de um acordo que liberaliza o comércio de autopeças entre os dois países e dá aos carros argentinos de 1.000 cilindradas a mesma isenção de impostos que beneficia os brasileiros.
Nas negociações de Buenos Aires, o governo argentino obteve também o compromisso de que o Brasil irá sobretaxar as importações de trigo de fora do Mercosul que tenham recebido subsídios em seus países de origem. O Brasil rebaixou essas tarifas para enfrentar a insuficiência da oferta interna e impedir que os preços domésticos subissem. Mas subsídios são, de fato, práticas desleais de comércio e, nesse caso, prevaleceu o critério geral sobre a conjuntura particular.
A consolidação do Mercosul é importante não só por seus efeitos diretos sobre a economia de cada país, mas como um passo rumo a processos mais abrangentes de liberalização comercial. Nesse sentido, os países membros devem estar atentos às pressões no sentido de transformar os acordos de liberalização em mercados internamente livres, mas externamente protecionistas. O Mercosul, no caso, deverá significar a superação progressiva das fronteiras atuais, buscando-se o que está além do Mercosul.

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