São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 1994
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Um paradoxo real

Não é preciso qualquer pesquisa científica para notar que o trânsito em São Paulo e nas outras grandes cidades brasileiras tornou-se ainda mais congestionado nos últimos meses. Basta sair às ruas, de carro ou mesmo de ônibus.
Parece também haver um razoável consenso entre especialistas em atribuir pelo menos parte da situação ao Plano Real, o que tem lógica: com o preço dos combustíveis inalterado desde 1º de julho, há uma natural tendência dos donos de automóveis de utilizarem mais seus veículos. Além disso, como a inflação caiu bastante e, portanto, corrói menos o poder de compra, há também uma natural inclinação a sair mais de casa.
Esse dado obriga a uma reflexão sobre os gargalos na infra-estrutura brasileira. Se menos de seis meses de uma economia estabilizada já foram capazes de contribuir para tornar mais complicada a locomoção nas grandes cidades, o que acontecerá se e quando houver uma estabilização prolongada?
É razoável supor que haverá uma asfixia e não apenas no transporte urbano. Já há estimativas de um blecaute em prazo relativamente curto, em função do atraso na conclusão de hidrelétricas (16 delas estão paradas); São Paulo já sofre racionamento de água, por mais que se possa atribui-lo principalmente a uma seca anormal; é conhecida e crescente a carência de telefones e assim por diante.
No caso específico do trânsito, não há saída fácil. Obras viárias demandam tempo, além de serem caras. A expansão do metrô, a solução de médio ou longo prazo mais lógica, caminha vagarosamente. Talvez seja, aliás, o caso de se estudar também a privatização desse meio de transporte, tal como já se começa a fazer na construção e/ou manutenção de rodovias.
Seja como for, o importante é que as autoridades dêem atenção a esse paradoxo: ao mesmo tempo em que a estabilização é uma necessidade e tem de ser perseguida vigorosamente, ela é fonte de outras dificuldades, à medida que cessa a contenção da demanda provocada pela longa crise. O trânsito é apenas um exemplo.

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