São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 1994
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Alienação

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – Tenho a impressão de que os deputados federais e os senadores vivem em outro planeta.
A necessidade de mudanças nos costumes e procedimentos que praticamente todas as instituições públicas estão sendo obrigadas a adotar em função do novo país que se tenta construir desde 1984 não chegou ao Congresso.
É nítida a mudança da imprensa nestes dez anos. Poucas instituições se dispuseram a um processo público de autocrítica tão profundo e continuado.
Há uma evidente preocupação do presidente Itamar Franco em mostrar que dirige o país de forma diferente do seu antecessor.
Está mudando o comportamento dos sindicatos, das multinacionais, até mesmo das empreiteiras.
Há uma febre de mudança no país. Há uma paranóia geral com a imagem. Ninguém quer ser associado a corrupção, fisiologismo ou ineficiência.
Empresas e instituições procuram construir imagens públicas que denotem modernidade, ética, competitividade, solidariedade ou espírito público.
Empresas e instituições sinalizam que estão tentando mudar porque descobriram que não sobreviverão a um país que se transforma.
Mudam porque sabem que perderão mercado (as empresas) ou legitimidade (as instituições públicas). São razões de ordem prática mais do que ética ou ideológica. Mas resultam em mudanças.
O Congresso, no entanto, parece alheio a tudo isso. Todas as tentativas, desde 1988, de mudar os usos e costumes internos, de torná-lo eficiente e ágil, de romper com a herança de burocratismo, nepotismo, fisiologismo, corporativismo e quem sabe quantos outros ismos –todas fracassaram.
Estes políticos que encerram seus mandatos empenhados em aprovar a indecência de uma anistia para um senador condenado por ter usado recursos públicos na eleição provocam, além de indignação, melancolia.
É um Congresso definitivamente fora do seu tempo.

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