São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Arida defende fim dos bancos estaduais

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pérsio Arida, indicado para ser o novo presidente do Banco Central, defendeu ontem a extinção dos bancos estaduais durante a sua sabatina no Senado.
A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou por unanimidade a indicação de Arida para a presidência do BC. A indicação deverá ser aprovada também pelo plenário da casa.
Ainda presidente do BNDES, Arida obteve voto favorável dos 19 senadores presentes, depois de quatro horas de sabatina.
Em suas respostas, Arida defendeu a extinção dos bancos estaduais e avisou que vai praticar taxas de juros elevadas sempre que o consumo estiver muito aquecido.
Acrescentou, contudo, que terá coragem de praticar juros reduzidos se assim for necessário para reativar o crescimento econômico, caso a demanda se reduza a ponto de provocar recessão.
Arida também se mostrou favorável à existência de um Banco Central independente.
Confira abaixo as posições defendidas por Arida no Senado:
CÂMBIO
O processo de liberalização pode avançar em dois aspectos: no da conversibilidade (possibilidades de livre compra de moeda estrangeira) e uso da taxa de câmbio como referencial para remunerar contratos na economia, a exemplo do que já ocorre com os repasses internos de financiamentos externos.
Está descartada a adoção de paridade fixa com o dólar. A taxa continuará flutundo nos atuais limites (R$ 0,85 a R$ 1), disse. Também não se pensa em permitir que obrigações internas em reais sejam quitadas em outra moeda.
JUROS
"Se a demanda estiver muito aquecida, certamente haverá um aperto. É preciso ter coragem para aumentar juros quando a demanda está aquecida e para reduzi-los quando for necessário ativar o crescimento econômico", disse.
"A TLPJ (Taxa de Juros de Longo Prazo, atualmente em 26% anuais) ainda é muito alta".
AJUSTE FISCAL
"O equilíbrio das contas públicas ainda não é permanente. Ainda há reformas estruturais a fazer. Deve-se pensar na privatização (venda de estatais) como mecanismo de redução de dívida. Isso reduz a conta de juros e dá um alívio permanente ao Orçamento".
DESINDEXAÇÃO
"É preciso aprofundar a desidexação. A direção tem que ser no sentido da liberdade de contratação. É preciso desonerar os agentes econômicos da imposição de normas (indexadores e taxas oficiais)". Para ele, o ideal é que cada instituição financeira possa praticar sua taxa de juros.
Por outro lado, acrescentou, o fim da TR ainda requer tempo. Não pode acabar por enquanto, pois "é importante que o processo de desregulamentação não venha a desestimular a poupança".
IMPORTAÇÕES
"A abertura econômica é a resposta mais efetiva aos cartéis. Contribui no processo de estabilização de preços".
EXPORTADORES
O setor vai ter que aprender a conviver com a desvalorização do dólar, aumentar competitividade. Mas também cabe ao Estado promover reformas estruturais, que permitam redução de custos, disse.
BANCOS ESTADUAIS
"Não vejo razão para a existência dos bancos estaduais. Os Estados podem tomar recursos diretamente. A experiência demonstra que eles são suscetíveis a crises de acordo com os ciclos eleitorais. A cada quatro anos, a boa qualidade de uma administração pode ser desfeita pela seguinte."
"Não vejo como escapar de uma ampla reestruturação do problema. A privatização é certamente uma saída importante."
EMISSÃO DE MOEDA
"Ainda há espaço para a monetização (aumento da quantidade de dinheiro em circulação) a longo prazo."
BC INDEPENDENTE
A indepedência do BC deve estar na Constituição, disse Arida. Os diretores devem ter mandatos fixos, não sujeitos às mudanças de governo. "Essa independência é fundamental para a consolidar a confiança na estabilização."
RENDA MÍNIMA
Arida também disse ser favorável ao projeto de renda mínima (complementação de renda) apresentado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Segundo ele, trata-se de um modelo que já deu certo em outros países.

Texto Anterior: Itamar e Clinton se encontram por 10 min
Próximo Texto: Princípios
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.