São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
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Tragédia da cantora foi chegar tarde demais

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Sérgio Cabral escreve a história da MPB através de biografias. Se em "Almirante" (1990) ele narrou o nascimento do rádio e do show business na cena carioca, em "Ari Barroso" (1993) foi a vez do teatro de revista. "Elisete Cardoso" aborda o declínio da velha guarda da MPB.
A cantora assumiu como ninguém a etiqueta "velha guarda". Nos anos 60, apresentou programas de TV que reuniam a turma da chamada "época de ouro" da música brasileira (cujo auge se deu nos anos 30). Elizeth foi filha temporã do gênero e sua última grande representante.
Defendeu os valores tradicionais com unhas e goela. Sustentava a retórica do estilo antigo contra o bossa nova. Logo ela, que lançou o samba "Chega de Saudade" em 1958, pouco antes de João Gilberto gravar sua versão, que veio a desencadear a bossa nova.
Juntava todos os requisitos para dar conta do repertório de primeira linha. Mas, quando finalmente começou a gravar, uma nova geração já estava nos postos avançados, criando interpretações com outro gosto. Era o primeiro núcleo de músicos que viria a fornecer as bases da bossa nova.
Elizeth trilhou o sucesso em um modelo antiquado de interpretação. Seu sofrimento foi também estérico. Padeceu da decadência a fórceps da moda.
Cabral narra saborosamente os embates da vida e dos gostos enfrentados por Elizeth. O leitor é transportado para um mundo que o autor põe de pé como se fosse ainda presente. A personagem se ergue dramática e real.
O livro demonstra que a tragédia de Elizeth foi ter chegado tarde demais.
(LAG)

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