São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994
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'Enforcados' e obesos sofrem

MAURICIO STYCER

Montadora diz que cinto segue biotipo médio, homens de 1,75 m e mulheres de 1,60 m Da Reportagem Local
A enorme adesão ao uso do cinto de segurança não está ocorrendo sem traumas.
Viúva de um promotor público, a dona-de-casa Eunice Ribeiro, 70, passou os últimos 30 dias lutando por algo que considera um direito seu: usar o cinto em seu Uno Mille.
Eunice afirma medir 1,59 m e pesar 55 kg. Esse conjunto, ela não sabe por que, leva o cinto do carro a passar junto a seu pescoço, causando mais que um incômodo: "É um enforcamento", diz ela.
Com ajuda de um aparelho de fax, Eunice já enviou 14 mensagens de SOS. Escreveu à Fiat, a uma revendedora autorizada, à Prefeitura de São Paulo, ao Detran, a programas de televisão e a jornais.
Eunice está furiosa.
A montadora diz que o cinto é projetado em função do biotipo médio da população. Isso significa, segundo o engenheiro Marco Saltini, da Fiat, homens de 1,75 m e mulheres que medem 1,60 m.
No caso do Uno Mille, o cinto dispõe de dois pontos de fixação. Carros mais sofisticados, já chegam com três ou quatro pontos para regulagem de altura.
Eunice Ribeiro já colocou o cinto de seu carro no ponto mais baixo, mas continua tendo a impressão que é enforcada pelo equipamento.
"A proporção entre pescoço, tronco e pernas varia entre pessoas com a mesma altura", diz o engenheiro Saltini, buscando uma explicação.
Como outras vítimas de "enforcamento", Eunice agora só dirige com o cinto passado por baixo do braço –o que alivia o incômodo e garante a não-autuação por técnicos da CET, mas é considerado perigoso.
Uma outra forma de burlar a fiscalização –esta ilegal– já foi detectada em São Paulo: camisetas brancas com uma listra preta pintada em diagonal dão a impressão, à distância, que o motorista está usando o cinto.
Só uma camiseta dessas resolveria o problema do ator Gerson de Abreu, que pesa 150 kg. "Eu precisava de uma extensão de uns 20 centímetros para usar o cinto", diz.
Quando, por muita insistência de um taxista, consegue afivelar o cinto, Gerson passa mal: "Fico parecendo uma linguiça amarrada".
Gerson, 30, conta que brigou recentemente com um taxista. "Ele mandou eu colocar o cinto. Eu disse: 'Se você conseguir colocar em mim, eu pago dobrado.' Ele insistiu. Eu coloquei. Quebrei o cinto do cara".
Nelson Maluf El Hagi, diretor de Operações da CET, informa que obesos e grávidas não serão multados se não estiverem com o cinto.
"É uma questão de bom senso. O peso da pessoa é levado em consideração pelo fiscal", diz.
(MSy)

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