São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994
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Lola-Lola cria o mito Marlene

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

A Lola-Lola de "O Anjo Azul" (Cultura, 0h) não é só o protótipo da mulher fatal. É também a mulher que incorpora à sua feminilidade um traço masculino de autoridade.
Daí ninguém se espantar que justamente por ela caia de amores o professor Unrath (Emil Jannings), ele também um autoritário. Unrath se apaixona pela cantora como quem se apaixona por um espelho. O que ele vê é sua própria imagem, só que a idealiza mais bela (bem mais bela, aliás).
Daí o espectador deixar-se fascinar ao mesmo tempo por Marlene Dietrich e pelo filme, por Lola-Lola e Marlene, como se fossem uma só coisa. É a essa indiferenciação que o filme aspira.
Esse toque masculino de Marlene encaixa-se docemente no conjunto do filme, carregado, barroco, como se o acúmulo de elementos na imagem estivesse ali para acentuar ainda mais a confusão seja de sexos, seja de valores.
Joseph von Sternberg cria neste filme uma atmosfera de perfeita demência. Ela é que traça o destino do filme. Ela é que, de certo modo, traçou o destino da própria Marlene, o tipo perfeito de Sternberg.(Inácio Araujo)

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