São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994
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Queda dos governos militares abriu caminho para integração

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A OURO PRETO

O Mercosul nasceu de uma aproximação entre o Brasil e a Argentina, a partir de 1986, e não teve propriamente uma motivação econômica. Ela foi política.
Seu propósito era o de desarmar a histórica rivalidade entre dois países que no passado geraram bons momentos de tensão no continente.
A receita de atrelar a interesses econômicos comuns países com tradição de conflitos já havia sido aplicada à Europa a partir de 1958.
Nesse ano, o Tratado de Roma esboçou a atual UE (União Européia), na qual França e Alemanha fundiram suas economias e não mais repetiriam um currículo de quatro guerras em 150 anos.
No caso sul-americano, havia uma luta pela hegemonia política que a Inglaterra precisou arbitrar no século 19.
Mais recentemente, em 1971, a decisão do Brasil de se associar ao Paraguai para construir a hidrelétrica de Itaipu provocou a última crise com a Argentina.
Além de, do ponto de vista argentino, comprometer-se com um dos melhores trechos da Bacia do Prata, bastaria, em caso de guerra, que os brasileiros bombardeassem a barragem para inundar a região de Buenos Aires.
Redemocratização
Com a redemocratização dos dois países nos anos 80, o brasileiro José Sarney e o argentino Raul Alfonsín buscaram demonstrar que a rivalidade era artificialmente insuflada por um nacionalismo peculiar aos regimes militares.
Foi basicamente essa a motivação que levou à assinatura, em julho de 1986, da Ata para a Integração Argentino-Brasileira, que instituiu um Programa de Integração e Cooperação Econômica.
Este último mencionou de forma explícita, pela primeira vez, o projeto de se instituir um "espaço econômico comum" e, com ambição maior, complementar setores da economia dos dois países.
As coisas caminharam rápidas. Em 1990, os presidentes Collor e Menem assinam a Ata de Buenos Aires.
O acordo fixou a data de 31 de dezembro de 1994 para a entrada em vigor de um mercado comum.
Outros países
A agregação ao projeto de países como Uruguai e Paraguai foi quase automática.
Ambos têm na Argentina e no Brasil seus grandes parceiros externos e poderiam se tornar focos menores de tensão caso permanecessem isolados.
A capital paraguaia foi então simbolicamente escolhida para a assinatura, em 6 de julho de 1990, do Tratado de Assunção, para a Constituição do Mercado Comum do Sul (Mercosul).
Dois outros países limítrofes devem se tornar membros associados: a Bolívia, com tradição econômica mais atrelada ao Pacto Andino, e o Chile, um "global trader" (comercializa com todo o mundo) que divide suas exportações igualmente para com os blocos Ásia-Pacífico (Apec) e norte-americano (Nafta).
Integração aduaneira
A rigor, o Mercosul ainda não é um mercado comum, organização que, além de mercadorias e serviços, permite a livre circulação de cidadãos e investimentos.
O único exemplo do gênero é a União Européia, ex-Mercado Comum Europeu.
O Mercosul pretende ser, por enquanto, uma zona de integração aduaneira, na qual os quatro países membros circulam produtos sem cobrar mutuamente direitos alfandegários e mantêm, com relação a terceiros, as mesmas taxas aduaneiras.
A fusão não é, por enquanto, total. Dos 9.000 produtos que os países do Mercosul comercializam, pouco mais de 800 continuam a ser protegidos por barreiras alfandegárias quando se trata do comércio multilateral.
Para outros tantos, os quatro países cobram impostos diferenciados de terceiros. Ou seja, não aplicam a TEC (Tarifa Externa Comum).

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