São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994
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Plano Real joga mais US$ 20 bi no consumo

FIDEO MIYA; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

O poder de consumo dos brasileiros recebeu uma injeção adicional de pelo menos US$ 20 bilhões nos primeiros seis meses do Plano Real.
Esse dinheiro aqueceu as vendas em todos os setores. Puxou primeiro a venda de produtos consumidos pela população de baixa renda e agora atinge setores mais sofisticados: jóias, carros importados, aviões e até o turismo.
Cerca de US$ 9 bilhões –US$ 1,5 bilhão por mês– vieram do fim do "imposto inflacionário", estima Geraldo Gardenalli, economista da Fundação Getúlio Vargas.
Outros US$ 6 bilhões, calcula ele, resultaram da valorização do real em relação ao dólar.
Mais US$ 4,7 bilhões foram gerados pelo sistema bancário através do crédito direto ao consumidor, segundo Flávio Pacheco, diretor da Acrefi, entidade que reúne as financeiras.
E US$ 360 milhões saíram das cadernetas de poupança entre julho e novembro.
Essa cifra deixa de fora o dinheiro movimentado pelos cheques pré-datados e cartões de crédito, fundos de investimentos e a "poupança" escondida no dólar paralelo.
Essa "riqueza extra" gerada pelo Plano Real mantém o consumo aquecido desde agosto último, desafiando o arrocho monetário e o aperto no crédito adotados pelo governo.
Em números redondos, o economista Geraldo Gardenalli estima que o fim do "imposto inflacionário" produziu um aumento do poder aquisitivo da ordem de US$ 18 bilhões e a valorização do real frente ao dólar acrescentou outros US$ 12 bilhões, totalizando cerca de US$ 30 bilhões.
A classe média brasileira, composta por cerca de 85 milhões de consumidores com uma renda total da ordem de US$ 225 bilhões –40% do PIB (Produto Interno Bruto)–, é a mola propulsora do atual movimento no consumo, segundo o economista Nelson Barrizelli, professor da USP.
Barrizelli, que é também consultor da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), baseia-se nos dados da última PNAD (Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar) do IBGE e estima que o PIB seja de US$ 560 bilhões, incluindo a economia informal.
Para ele, salvo alguns "espasmos" que ocorreram no Plano Cruzado em 1986 e no Plano Verão em 1989, o consumo desse segmento da população foi reprimido desde 1981 pelas sucessivas ondas de recessão e desemprego na economia, acompanhadas da aceleração inflacionária e encurtamento nos prazos de crédito.
A queda da inflação e o clima de confiança em relação ao Plano Real estão trazendo de volta esses 85 milhões de consumidores ao mercado, explicam Barrizelli, Gardenalli e Flávio Nolasco, economista-chefe da Brasilpar Administração de Recursos.
Em primeiro lugar, porque a perspectiva de estabilização na economia afastou o medo do desemprego e a parcela que antes era destinada à formação de poupança agora vai para o consumo.
Mais do que isso, o restabelecimento do crédito com prazos mais longos, a taxas prefixadas nominalmente mais baixas, estimula a classe média a comprometer sua renda futura no crediário.
Segundo Barrizelli, é limitado o aumento da capacidade de consumo das camadas mais pobres da população –60 milhões de pessoas com renda total de US$ 110 bilhões ou 20% do PIB–, as mais beneficiadas pelo fim do "imposto inflacionário".

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