São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994
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Globo parece estar no campo

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O festim de imagens da Globo mudou a transmissão do futebol nestas finais. A transformação foi tão ampla que confundiu a própria edição.
Cada cena do jogo é apresentada de tantos ângulos, tão diversos, que confundem a realidade. Não mais uma única percepção, mas muitas, tantas quantas são as câmeras.
Assim, uma jogada de linha de fundo entre Cléber e Marcelinho é vista seguidamente, até ficar evidente que foi escanteio e o juiz errou.
A edição e o próprio espectador acompanham atentamente as repetições –e quando se volta ao tempo real é tarde: está no fim a jogada do primeiro gol do Palmeiras.
O deslize da transmissão é compreensível. A transformação foi geral e é preciso tempo para a adaptação. E o que se perdeu foi inteiramente compensado, em cenas que deram outra dimensão do futebol, na tela. Sobretudo, com a proximidade da imagem.
Como nas faltas, que ganharam detalhes e ação própria, deixando de surgir como mera paralisação da partida.
A face de dor, a violência dos grandes zagueiros contra os atacantes, a sola proposital. Também os xingamentos, como aqueles trocados por Edmundo e Paulo Roberto.
Para além da violência, também o carinho, como nos beijos trocados por Cléber e Marcelinho.
E mais, a certeza de que houve pênalti sobre Viola e de que não houve pênalti sobre Roberto Carlos, o que foi possível depois de ver as jogadas de muitos ângulos.
E mais, a bola de Marcelinho na trave, em escanteio, mostrada por uma câmera dentro do gol. E mais, a cobrança forte de falta de Roberto Carlos, de um ângulo invertido.
Foi aquilo, um festim de imagens. Um festim que transformou as pequenas peças de uma ação coletiva em personagens complexos. Alguns, em protagonistas, como Rivaldo, ao comemorar um gol em plano americano, agarrando a camisa, dirigindo-se à torcida que o perseguia.
O festim da Globo, é bom que se diga, segue à sombra de Armando Nogueira, antigo diretor da emissora.
Foi em seu novo programa, Esporte Real, da Globosat, que fixou-se há pouco a fórmula de escolher e transformar jogadores em personagens complexos, com câmeras de solo.
Por outro lado, na concorrência da Globo, sem novidade na locução, sem novidade nas estatísticas, agora tornadas clichês, restou uma ou outra imagem exclusiva.
Como na discussão entre Cléber e Cláudio, da Bandeirantes. Ou na tensa preparação dos jogadores, ainda no túnel, da TVA.

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