São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994
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Com o Corinthians não se brinca, pô!

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A faixa de cetim foi lavada, secada ao sol do Parque Antarctica, passada com esmero e está prontinha para se exibir com gala lá na galeria alviverde, a partir do início desta noite. A taça, polida com o mais recente produto importado de Turim e uma gota de lágrima doce, a lágrima feliz que rola internamente, parodiando o poeta popular. San Genaro, San Vito e a Virgem de Acheruppita estão de vigília, convocados pelo Armandinho do Bexiga, que chegou por lá ainda outro dia, mas já está preparando a maior festa de rua que os céus já viram.
No Castelões, os rombudos discos de massa se douram ao forno de lenha, lentamente, à espera dos companheiros inseparáveis de tantas vitórias: a mozzarella, o molho de tomate generoso, as folhas de manjericão e o grito de Palestra é campeão!
Para quem não sabe, o Palestra não era só verde e branco. Exibia também, embora com certa modéstia, o vermelho garibaldino da bandeira italiana. Só depois, ficou apenas alviverde.
Trata-se de um ritual que se repete há muito tempo, quase sempre com um final feliz. Pois, se há um time acostumado às vitórias esse é o Palmeiras, apesar dos anos de estiagem que viveu. Sobretudo, nos últimos dois anos, quando o feliz casamento com a multinacional Parmalat gerou uma ninhada de títulos invejável.
Mas, como diria o imparcialíssimo e insuspeito Roberto Avallone, olhos rútilos fitando as câmeras, com o Corinthians não se brinca. Repito, no tom exato: "Com o Corinthians não se brinca!" E acrescento, de minha lavra: Pô!

Quem perde mais nesse jogo dos desfalques: o Palmeiras, sem Roberto Carlos, ou o Corinthians sem Zé Elias?
São ambos jogadores fundamentais para suas equipes. Roberto Carlos é o bólido que dispara pela esquerda, supre a ausência de um ponta característico por ali e tem um canhão de 32 milímetros na canhota.
Incansável, veloz, habilidoso e disciplinado, de hábito, não apenas é insubstituível. Vale pelas duas laterais, já que Cláudio, do outro lado, nunca ultrapassou os limites do obediente e discreto cumpridor de suas obrigações. Não foi por acaso que, quando Roberto Carlos teve um natural declínio, na segunda fase do Brasileirão, todo o Palmeiras ruiu junto.
Mas esse não é um jogo no qual Roberto Carlos seja fundamental. Afinal, até mesmo uma derrota por dois gols de diferença dá o título ao Palmeiras. Assim, até mesmo Amaral, deslocado para o setor, pode dar conta. Isto é: defender.
Já Zé Elias, promovido a titular por Mário Sérgio quando tinha 17 anos, este sim é insubstituível no Corinthians. Claro, porque com ele à frente da frágil zaga corintiana, o técnico pode arriscar um sistema mais ofensivo, com dois meias (Boiadeiro ou Casagrande –este me parece um jogo para o Casão– e Souza). Na frente, Marcelinho, Viola e Marques. E seja o que Deus quiser.
Acrescento: Pombas!

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