São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994
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Acordo sul-americano ainda engatinha

CYNARA MENEZES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Brasileiros, uruguaios, argentinos e paraguaios só saberão que o Mercosul existe quando forem ao supermercado. À exceção da tarifa zero entre os quatro países, que começa a vigorar em 1º de janeiro –o que vai aumentar o número de produtos importados nas prateleiras–, o Mercosul ainda engatinha.
Por exemplo: um brasileiro que quiser trabalhar na Argentina pode –se tiver contrato antes de sair do país. Se não tem, vai para o mercado informal e será convidado a se retirar na primeira oportunidade, como seria qualquer estrangeiro.
Só para comparar: qualquer cidadão da União Européia, hoje, pode trabalhar no país que escolher para viver. Se a comparação Mercosul-União Européia é inevitável, sob a ótica dos diplomatas envolvidos na criação do novo mercado, o Mercosul é um recordista.
A criação da União Européia remonta a 1957, quando a Alemanha Ocidental, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Holanda assinaram o Tratado de Roma, com o objetivo de abolir progressivamente as fronteiras entre os países-membros.
As barreiras aduaneiras só foram cair, porém, 11 anos depois, junto com a adoção de uma política tarifária única. No Mercosul, a união aduaneira começa menos de quatro anos após a criação do mercado, mas a tarifa externa única esbarra em listas de exceção gigantescas.
A relação brasileira, com 233 produtos, inclui desde preservativos até derivados de petróleo. A Argentina definiu um número de exceções igual ao brasileiro. Uruguai tem 203 produtos e Paraguai, 215.
As tarifas destas listas não podem ultrapassar 35% até o ano 2000, quando devem ser alinhadas. As demais tarifas externas para os produtos do Mercosul são fixadas entre 0 e 20% a partir de 1º de janeiro.
Um fato novo também pode impedir a aceleração do novo mercado: a eleição, no final de novembro, do colorado Julio Maria Sanguinetti para a presidência do Uruguai. Nacionalista, Sanguinetti assume o cargo reclamando medidas protecionistas para o Uruguai.
Um dia antes de disputar a eleição, Sanguinetti disse achar que seu país está chegando ao Mercosul em desvantagem com os demais. Vai pedir, logo de chegada, um prazo maior para os produtos brasileiros, argentinos e paraguaios entrarem no Uruguai.
A diplomacia brasileira não acredita, porém, que o novo presidente consiga causar modificações profundas no Mercosul –mesmo porque as novas medidas entram em vigor em janeiro, dois meses antes de sua posse.
Implantadas as novas tarifas externas e internas, e instalada a zona de livre comércio, os negociadores já planejam o próximo e ambicioso passo: fazer o Mercosul dar certo e crescer a ponto de agregar também o outro grupo de países da América do Sul, o Pacto Andino, que reúne Bolívia, Equador, Colômbia, Peru e Venezuela.

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