São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994
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Novo candidato complica reeleição de Menem

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

A tranquilidade do presidente Carlos Menem de ganhar as eleições de maio no primeiro turno sofreu forte abalo na última semana. O responsável é o candidato à Presidência da União Cívica Radical, Horacio Massaccesi.
Com menos de um mês de campanha, Massaccesi cresceu nas pesquisas de intenção de voto na Argentina sem contestar as linhas básicas do Plano Cavallo. "Um dólar, um peso, se mantém", diz.
Em entrevista à Folha, Massaccesi critica a política de Menem em relação ao Mercosul. "Se o Mercosul for apenas Buenos Aires e São Paulo, estamos mal".
Ele defende uma política econômica que torne a indústria da Argentina mais competitiva. Na sua opinião, o país não deve se conformar em apenas atender às necessidade de consumo brasileiras.
A seguir, trechos da entrevista.

Folha - O sr. atribui seu crescimento nas pesquisas ao efeito Robin Hood?
Horacio Massaccesi - A Argentina tem um sistema federal de governo, com autonomia provincial e o governo federal. Nós fizemos isso porque o governo federal retinha fundos que eram da província e de que necessitávamos para o funcionamento do nosso Estado.
Além disso, os fundos estavam depositados no nosso próprio banco. Não nos apropriamos do fundo sem norma legal. Editamos uma legislação local. Isso nos permitiu usá-los. Foi um acontecimento que estava a 41 dias das eleições de renovação dos governadores.
Folha - O sr. foi candidato em 91 e ganhou o segundo mandato. Foi um golpe de publicidade?
Massaccesi - Não. Foi uma defesa dos direitos da província.
Folha - O sr. afirmou que era preciso "peronizar" a UCR. O que quer dizer com isso?
Massaccesi - Falo da necessidade de representar a maioria do povo que sofre. Meu partido é nacional e deve ser popular. A campanha e programa de governo têm que interpretar a maioria. Isso é classificado pela imprensa como "peronizar", mas eu quero representar a maioria popular.
Folha - Se for eleito, o sr. vai manter as principais linhas do Plano Cavallo?
Massaccesi - Um dólar, um peso, se mantém. Vamos compensar os setores exportadores.
Folha - Como seria essa compensação?
Massaccesi - Da mesma maneira que Cavallo faz hoje com outros setores da economia. Por exemplo, para a privatização, ele assegura créditos e preços amplos.
Quero pôr o poder político a serviço de uma proteção agroindustrial com critério exportador. Discutir a política de integração com o Mercosul com critérios produtivos e não apenas com parâmetro consumidor. O Mercosul é uma integração regional. Não é São Paulo-Buenos Aires.
Folha - Como assim?
Massaccesi - Modernizar produtivamente e aprofundar a política de comércio exterior do país. Hoje, a Argentina é uma oportunidade para o mundo. Eu quero que o mundo seja uma oportunidade para a Argentina.
Folha - O sr. teme que a indústria argentina saia perdendo na competição com o Brasil?
Massaccesi - Se o Mercosul for apenas Buenos Aires e São Paulo, estamos mal. Se integração significa fechar usinas de açúcar na Argentina por causa do produto brasileiro, não estamos bem.
Folha - Como colocar em prática essa política com tantos problemas, tais como déficit fiscal e desemprego?
Massaccesi - Reconhecendo as dificuldades. Hoje, o maior inimigo da estabilidade é o governo, que atua como se esses indicadores não existissem e somente desenha políticas eleitoreiras.
Deve-se colocar o poder político a serviço da produção e inseri-la no mundo de consumo e serviço e não apenas para o lucro fácil da privatização e subsídios orientados para setores monopolistas.
Folha - A Frente Grande diz que o sr. não teria dificuldades em fazer acordo com Menem, caso ele ganhe novo mandato.
Massaccesi - Não há nenhuma possibilidade de um programa comum com o atual governo porque a saída é justamente um programa alternativo, que represente a maioria que está sofrendo.
Folha - Mas o sr. não discorda das linhas básicas do Plano Cavallo. Apenas demonstra preocupação com o custo social.
Massaccesi - Além disso, há um estilo de governo. O governo Menem não governa, hegemoniza. Não compartilha, mas impõe. Não reconhece a autonomia das províncias. Não tem projeto de regionalização política. Não governa com critérios territoriais, mas com critérios de shopping.
Folha - Qual a sua proposta para reduzir o nível de desemprego, que deve atingir a marca de 15% até as eleições de de 95?
Massaccesi - Criar infra-estrutura para o desenvolvimento social e não apenas fazer obras.
Temos que fazer uma programa de obras públicas com recursos próprios e investimentos estrangeiros nas áreas de transportes e portos. O governo investe em casas populares ao redor de Buenos Aires apenas para ganhar votos.
Folha - O sr. faz muito sucesso entre o eleitorado feminino.
Massaccesi - Cada vez mais.
Folha - Já se sente como um símbolo sexual da campanhal?
Massaccesi - Espero que não. Espero conquistar com a sedução das minhas idéias.
Folha - O sr. concorda com a proposta de Menem de comprar a soberania nas Malvinas?
Massaccesi - Não. Acho que isso não é sério.
Folha - Prosseguiria com o alinhamento automático de Menem com o governo norte-americano?
Massaccesi - Vamos fazer o alinhamento justo e necessário. Não vamos fazer um alinhamento excessivo e menos ainda à custa da solidariedade latino-americana. Sou crítico da crítica de Menem à situação cubana. É um excesso.

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