São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 1994 |
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A verdade e a indignação
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO – Está aí o Ministério FHC. Bom ou ruim, só se vai saber, mesmo, mais tarde. O general Juan Domingo Perón, três vezes presidente da Argentina e um frasista extraordinário, costumava dizer que "la realidad es la única verdad".Pois é. Veremos todos dentro de quatro anos qual será a realidade e, por extensão, qual será a verdade sobre o gabinete FHC. Por enquanto, fica a constatação de que o lado social não parece adequadamente contemplado. Falou-se pouquíssimo dele, quase nada, em todo o processo de escolha dos ministros. Aliás, no discurso de despedida do Senado, na quarta-feira, a ênfase social foi mínima. É claro que de nada adianta falar do social, durante a eleição e antes da posse, e nada fazer depois dela. Mas enquanto não surgir neste país um governo que crave a questão social como prioridade absoluta, não haverá um governo de fato decente. Sei que não é moda, hoje, falar desses assuntos desagradáveis. Mas, voltando ao general Perón e à realidade como única verdade, remeto o leitor à abertura de texto de Gilberto Dimenstein publicado sexta-feira à página 1-10 desta Folha. "Documento divulgado ontem pelo Unicef, em Nova York e em Brasília, mostra que o Brasil tem um índice de mortalidade infantil bem acima do que o de países pobres da África, Ásia e América Latina. A mortalidade infantil é o principal indicador social de um país", informava Dimenstein. Essa é a realidade brasileira, embora não haja nela uma grande novidade. Todo o mundo está cansado de saber que o Brasil é um desastre social que só encontra paralelo nos países do chamado Quarto Mundo. A novidade, triste, amarga, é que esse tipo de informação já não choca. Tanto não choca que saiu num fundo de página de final do caderno, ainda que seja, teoricamente, o principal caderno do jornal. Mestre Cláudio Abramo costumava ensinar que o jornalista jamais deveria perder a capacidade de se indignar. Que adianta, se os governantes não parecem nem um pouco indignados? Texto Anterior: Um mínimo de coragem Próximo Texto: É tão fácil Índice |
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