São Paulo, quarta-feira, 21 de dezembro de 1994
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Murros na mesa

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

– O ministro Ciro Gomes pede mais ministérios para os nordestinos.
Ciro Gomes, aliás, paulista de nascimento, deu nova manchete antipaulista aos telejornais de ontem, como o da Bandeirantes.
Deu manchete e deu "murros na mesa". Chegou a chamar a atenção dos velhos políticos nordestinos, por deixarem os paulistas tomarem conta do futuro governo de Fernando Henrique Cardoso.
Atacou José Serra, mais uma vez, grosseiramente. Fez um escarcéu. Mas, com todo o seu teatro, Ciro parecia na verdade bem pouco interessado em mais poder para os velhos políticos da região.
Nem tomou posse o presidente brasileiro dos próximos quatro anos e tem gente lutando pela sucessão. No caso, dividindo o país desde agora para evitar que o favorito do momento, o amigo do presidente, se estabeleça.
No mundo real
A sorte do Brasil é que o real, sabe-se lá como, vai sobrevivendo aos excessos verbais de seus ministros da economia, um após o outro.
Ontem, uma outra manchete do Jornal Bandeirantes dizia que "a inflação volta a cair em São Paulo". Por pouco, não baixa dos 2%.
Sem nenhum berro, sem murros na mesa.
Periferia
O cordão de isolamento em torno do rap foi parcialmente rompido pelo Fogo Cruzado, ontem na CNT.
Ainda que com um tema que colocava em julgamento, não o que os rappers denunciam, mas eles próprios, o programa foi uma primeira abertura da televisão para o movimento, que reflete o lado mais violento da periferia de São Paulo.
Ao perguntar se "o rap incita à violência", o Fogo Cruzado começou e persistiu em posição de crítica aos rappers, por versos que usam palavrões contra policiais, por exemplo.
Uma crítica reforçada por dois representantes da própria Polícia Militar, dizendo que vão seguir prendendo os grupos de rap, pelo que eles cantam e declamam. Disseram muito mais, os policiais, justificando até o racismo.
Mas o que ficou do programa foram menos as novas ameaças da polícia e muito mais o rancor, a revolta, também ameaçadora e talvez por isso quase sempre evitada, da periferia, através do discurso dos rappers.

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