São Paulo, quarta-feira, 21 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Fiz um jogo leal com o PT o tempo todo"

ELVIS CESAR BONASSA
DA REDAÇÃO

Francisco Weffort, um dos fundadores do PT, deixou o partido para entrar no governo. Mas diz que essa decisão recebeu o apoio "pessoal" de dirigentes do PT, que só não apoiariam politicamente para não desrespeitar a decisão do partido de ficar na oposição.
O futuro ministro diz que não teme ser usado como um aval esquerdista para o governo de FHC. Ele acredita que poderá, através da atividade cultural, "multiplicar os espaços de crítica".
Segundo Weffort, cabe aos partidos de oposição e às lideranças da sociedade civil pressionar para empurrar o eixo do governo um pouco mais à esquerda.
Folha - Como foi a reação dos seus companheiros de partido à sua ida ao Ministério da Cultura no governo de Fernando Henrique?
Francisco Weffort - Isso é que me surpreende. O Lula me apoiou, o Gilberto Carvalho (secretário-executivo do PT) me apoiou. Não em termos políticos, porque eles têm que cumprir uma decisão de partido de não-apoio ao governo, mas em termos pessoais.
Eles sabiam de minhas opiniões antes de a campanha terminar. O Rui Falcão (presidente do PT), provavelmente o líder com mais críticas a fazer, lamentou a decisão, mas considerou o caso encerrado, porque ele sabe que houve um jogo leal de minha parte todo o tempo.
Folha - O sr. não teme ser usado apenas como um aval esquerdista em um governo de composição mais conservadora, ocupando um cargo com poucos recursos e pouca expressão?
Weffort - Eu não vejo esse risco, sempre que o ministério cresça. À parte qualquer consideração sobre esquerda ou direita, porque isso honestamente não me interessa. A cultura é crítica. Quando você desenvolve a cultura, você multiplica o espaço para vozes que refletem sobre os problemas da sociedade. Não tenho receio de que eu esteja dando um toque de esquerda numa área menor de um governo que eventualmente se desloca para a direita. Se isso acontecer, ninguém vai se lembrar que eu estou dando um toque de esquerda.
Folha - Então o sr. acredita que poderá criar um amplificador de críticas que interferiram nos próprios rumos do governo em suas outras áreas?
Weffort - Eu não tenho essa pretensão. Acho que isso deve ser pretensão das lideranças dos partidos políticos de oposição ou dos líderes de movimentos sociais, que, de acordo com sua capacidade de movimentação, podem obrigar o deslocamento do eixo dentro do governo um pouco mais para a esquerda. Mas isso não pode ser pretensão de um ministro, qualquer um que ele seja.
A minha única preocupação é que o Ministério da Cultura funcione amplamente. Se ele funcionar amplamente, eu tenho certeza de que a criticidade da cultura brasileira vai dar uma grande contribuição ao desenvolvimento democrático do país. Nesta medida, será uma contribuição importante ao desenvolvimento da cidadania no Brasil. (ECB)

Texto Anterior: Weffort propõe reformular Lei Rouanet
Próximo Texto: Lei atrai poucos patrocinadores
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.