São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994
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Anjos, ovos e otários

O consumidor teve dor de cabeça atrás do carro popular e à frente do "Olho Mágico". O ano da proteção angélica (e aposentadoria compulsória dos duendes) foi também o da sorte, para o bingo, e o das surpresas – cobertas por chocolate fino.
Tudo pelo popular
A classe média sentiu cheiro de zero km e entrou na fila. A dois meses da chegada do Corsa (à esq.), em 7 de março, revendedoras já listavam os interessados no popular da General Motors. Megademanda, quadrilhas espertas e mercadão otário fizeram letra morta das tabelas de preços. Em maio, cem mil aguardavam na fila do Corsa. No paralelo, o ágio era de US$ 3 mil. Em junho, outros carros da faixa só surgiam nas "bocas", a preços especiais. O Real chegou, a especulação continuou. Mas pelo menos o presidente Itamar adquiriu, livre de ágio, seu Corsa Wind cor de vinho. Em agosto, apesar das ameaças da Receita Federal, a extorsão cresceu. Seu pico, 70%, foi em setembro. Só caiu em novembro, quando os importados pequenos tiveram impostos reduzidos e passaram a repartir com os populares a cobiça da galera.
O papa é pop
Canto gregoriano virou hit. Criado pelo papa Gregório no século 6, ganhou topo de parada pop e nova função: "antídoto para o estresse". A venda do cantochão como refresco new-age irritou críticos. Mas CD gravado na Espanha vendeu 500 mil cópias na Europa e dois milhões nos EUA (3º lugar na "Billboard"). Aqui, monges do Paraná gravaram cânticos em português e clipe onde aparecem saltitando pelas campinas. Em câmera lenta, claro.
Bingo!
O jogo da quermesse da igreja ganhou versão high-tech e virou febre, aquecido pela lei Zico – que destina parte dos lucros ao esporte olímpico. A primeira casa surgiu em abril, patrocinada pelo São Paulo Futebol Clube, com investimento de US$ 800 mil. Hoje, são mais de 30 e há outras 500 previstas para 95. Nem os tumultos e indícios de fraudes no interior de SP reduziram o público dos salões chiques. Quem não tem cassino caça com bingo.
Polifonia
"A pessoa é otária se pagar ágio de 70%"
Ciro Gomes, ministro da Fazenda, em setembro
"Foi uma frase de efeito. Antes, o ágio ia a 50%"
Sérgio Reze, presidente da Fenabrave
"Sabemos que este é o ano do canto gregoriano e que poderá tocar em motel"
Agostinho Ramos, 30, monge de Ponta Grossa

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