São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 1994
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Estudioso adverte contra 'despotismo'

DA REDAÇÃO

Fernando Henrique Cardoso corre o risco de se tornar um "déspota esclarecido", na opinião de Ricardo Antônio Silva Seitenfus, doutor em Relações Internacionais pelo Instituto de Altos Estudos Internacionais em Genebra.
Seitenfus esteve presente no debate "Novas Alternativas em Política Externa", no último dia 20 de dezembro no auditório da Folha.
Ele se referia às primeiras declarações de FHC sobre política externa, nas quais afirmava que seria ele o condutor e mentor nessa área. "É no mínino estranho ouvir do professor Fernando Henrique uma declaração tão personalista quanto essa. É por isso que o chamo de déspota", disse Seitenfus.
Na ocasião do debate, Seitenfus lançou o livro "Para uma Nova Política Externa Brasileira", no qual dá sugestões reais para uma atuação na área externa mais "democrática e participativa".
"Não escondo que esse livro foi lançado agora, perto da posse de um novo presidente, exatamente porque pode vir a ser usado. Espero que o Fernando Henrique ao menos leia o livro."
"A atividade internacional não deve pertencer a um só grupo, mas a toda a sociedade", afirma Seitenfus, que é extremamente crítico em relação ao Itamaraty. "Deve haver uma maior abertura com o Congresso, com os partidos, com a sociedade. Há uma infinidade de assuntos na área externa que ainda merecem ser discutidos, não apenas com os amigos do presidente, mas também com a oposição."
Participou do debate o advogado e professor da Faculdade de Direito da USP, Dalmo de Abreu Dallari. Dallari concorda que o Itamaraty é muito fechado em relação à sociedade. "A questão internacional é tratada no brasil como um assunto quase secreto", diz.
Dallari acha que a política externa se transformou nos últimos tempos em uma questão puramente comercial. "Relações econômicas são os meios, mas não os fins da política externa."
O embaixador do Brasil em Londres, Rubens Antonio Barbosa, não considera que não há debate na área externa. Para o embaixador, FHC tem uma chance única. "Há 30 anos tivemos uma política externa defensiva. Temos agora a oportunidade de passar para a ofensiva."
O professor José Augusto Guilhon Albuquerque, do Departamento de Ciência Política da USP, acha que os desafios do Brasil na área externa estão mudando e o país está vulnerável ao exterior.
"O Brasil tem contenciosos em áreas tais como meio ambiente, tráfico de drogas, direitos humanos, que não se restringem ao nosso país. Isso torna a nossa situação mais vulnerável."
Na ocasião do debate na Folha, Seitenfus lançou ainda o livro "Haiti, a Soberania dos Ditadores". Analisa a intervenção armada dos EUA no país.

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