São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 1994
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Hidrelétrica reaviva turismo do sertão

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PIRANHAS

A infra-estrutura construída em Piranhas (AL) e Canindé do São Francisco (SE) para receber a hidrelétrica de Xingó, inaugurada em 22 de dezembro, está sendo usada para desenvolver o turismo na divisa entre Alagoas e Sergipe.
A barragem da hidrelétrica de Xingó foi construída a sete quilômetros da fazenda Angicos, em Sergipe, onde o cangaceiro Lampião foi morto em emboscada feita por tropas alagoanas.
Lampião espalhava pânico na região na década de 30, até ser morto em 1938.
Hoje, o município de Piranhas, com seus prédios centenários, guarda parte da memória de Lampião em um museu municipal, instalado na antiga estação ferroviária.
O museu guarda também peças da nobreza brasileira. O imperador dom Pedro 2º passou pela cidade no século passado.
O Park Hotel Xingó, um quatro estrelas instalado em Canindé do São Francisco, oferece a seus hóspedes passeios pelo lago da hidrelétrica e pelos pontos históricos da região.
Na memória do morador mais antigo de Piranhas, Francisco Rodrigues, 85, o sertão hoje é mais violento do que foi com Lampião.
"Antigamente, era um Lampião, hoje tem muitos lampiões", afirmou à Agência Folha. Rodrigues defendeu Piranhas em 1936 quando parte do bando de Lampião invadiu a cidade para revidar a morte de um cangaceiro.
Por este motivo, teve que fugir da cidade por quase dois anos. Durante a invasão, segundo conta, ele matou dois cangaceiros do bando de Lampião defendendo sua loja.
"Fiquei na parte alta do sobrado, atirando até o bando ir embora. Minha mulher só rezava sob a mesa", afirmou.
Rodrigues conta com orgulho o fato de ter disparado 88 tiros naquela tarde de segunda-feira e diz achar bonita a cangaceira Inacinha, do bando de Lampião, a quem socorreu por ter levado um tiro na perna.
Ele guarda fotos de Inacinha. Rodrigues também mostra as fotos que fez da cabeça decapitada de Lampião e de vários de seus cangaceiros.
As cabeças ficaram expostas, em uma prateleira de madeira, na porta da igreja barroca de Piranhas.

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