São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 1994
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Brasil fecha mês com déficit de US$ 500 mi

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

As contas externas brasileiras, incluindo exportações, importações e transferência de capitais, fecharão dezembro com um déficit de US$ 500 milhões, segundo previsão da equipe econômica, que considera o resultado normal para este momento.
Pouco mais da metade do déficit se deve à balança comercial. Pelo segundo mês consecutivo, as importações vão superar as exportações. O restante se deve à saída de dólares, na contas de remessa de lucros, repatriamento de investimentos e outras.
As importações cresceram muito em consequência de quatro fatores: reação inicial à redução de impostos, aquecimento das vendas de fim de ano, medidas na área financeira que levaram à antecipação de compras externas e importações pelo correio. Nada disso perdura no próximo ano, de modo que a equipe conta com equilíbrio entre importações e exportações.
Na área financeira, a crise mexicana é um dos principais fatores de saída de dólares do Brasil. Ocorre que os grandes fundos de investimentos estrangeiros tinham em carteira papéis de todos os países importantes da América Latina.
Assim, tendo perdas com papéis mexicanos, venderam papéis brasileiros para compensar prejuízos.
No Banco Central, considera-se que esse movimento é limitado. Acalmadas as coisas no México, a tendência dos investidores externos é a concentração no Brasil, cuja situação econômica é bastante superior.
A equipe conta, portanto, com uma forte entrada de dólares para o ano que vem. Se isso ocorrer de fato, isso significa que o Banco Central vai ter que comprar dólares e controlar a entrada de modo a evitar uma queda na cotação da moeda americana em relação ao real.
Esse cenário é muito diferente do que imaginam os setores industriais e exportadores, que fazem pressão por uma valorização do dólar (ou desvalorização do real).
Para a equipe econômica, entretanto, equilibrando-se as importações e superada a crise mexicana, não haverá, no Brasil, demanda por dólares que sustente uma alta na cotaÇão da moeda americana.
O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega concorda com essa avaliação. Acha que o BC deverá ter cuidado para não deixar que o dólar se desvaloriza ainda mais.
Na previsão da sua consultoria MCM, o dólar chegará ao final de 1995 numa cotação entre R$ 0,90 e R$ 0,95. Se for a R$ 0,95, isso será uma valorização de 11,7% em relação aos atuais R$ 0,85.
Esse avanço ficará bem abaixo da inflação prevista para 1995. Se a inflação mensal média ficar em 1,5%, o que seria um ótimo resultado, isso daria 20% no ano.
Assim, o dólar deve continuar barato e sustentando a queda de preços ao longo do próximo ano. A idéia inicial da equipe é que essa política cambial segura a estabilidade até o avanço na reforma do setor público e nas reformas que modernizem a economia brasileira.
Obtido o equilíbrio fiscal e aumentada a eficiência da economia, a cotação do dólar encontrará novo equilíbrio. Esse é o plano. (Carlos Alberto Sardenberg)

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