São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 1994
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Gringos são os brasileiros

CARLOS SARLI

Toda vida o Circuito Mundial de Surfe foi dominado pelos anglo-saxões. Os australianos mantiveram a hegemonia durante anos, tendo como coadjuvantes os sul-africanos e americanos.
Australianos, americanos, sul-africanos e até um inglês faziam parte de uma elite de surfistas que não deixava muito espaço.
Gradativamente, a participação dos brasileiros vem aumentando e, para muitos, está incomodando o "establishment". Na temporada que termina, tivemos oito entre os 44 melhores do mundo. Até seis anos, não tínhamos nenhum. Fábio Gouveia e Teco Padaratz foram os primeiros. De lá para cá, o número aumenta. Em 95, serão nove.
Parece que essa "invasão" está incomodando alguns dos principais organizadores do circuito. Um exemplo ajuda a ilustrar a colocação. A ASP tem o direito de convidar um atleta para cada uma das etapas do WCT. Até o ano passado o critério era, digamos, matemático. Para não ser injusta, a associação utilizava sua vaga com a inclusão do primeiro do ranking após os 44 classificados, que, com os dois convidados do patrocinador da etapa e um da associação regional, compunham os 48 competidores.
Este ano, o 45º era um brasileiro, Ricardo Tatuí. O que até o ano anterior era considerado justo e lógico, de repente, deixou de ser. Alegando interesses políticos, a ASP preteriu a inscrição de Tatuí em três etapas, que vão ser seus descartes obrigatórios.
Suas chances diminuíram, mas mesmo assim ele tem vaga garantida pelo ranking da 2ª Divisão (WQS), que classifica os 16 melhores para a 1ª. Para tornar ainda mais injusta a mudança no critério, Tatuí venceu uma importante etapa na França, provando que seu nível de competição merecia o crédito da associação.
As decisões da associação são tomadas por um board de 14 pessoas. No caso de empate, o voto de minerva é do australiano (radicado nos EUA) Graham Cassidy.
Os 14 votantes estão divididos em dois grupos de sete. De um lado, os surfistas e de outro, os diretores das associações regionais: Austrália, Europa, América do Sul, EUA, Havaí, Japão e África.
Costuma-se dizer por aqui que quando é suado é mais gostoso. Que para os brasileiros tudo é mais difícil. Parece que o surfe não foge à regra. Estamos chegando cada vez mais perto. Não somos os melhores do mundo, mas já competimos, ao menos dentro d'água, de igual para igual.

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