São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 1994 |
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Moraes Moreira comemora 25 anos de carreira com alquimia musical
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Uma frase de Moreira resume o (ambicioso) projeto do disco: "Se é que já balancei seu corpo, agora quero sacudir sua alma". Ele decidiu desta vez deixar de lado as regravações de sucessos (como fez no disco anterior) e apresentar uma fita já pronta à gravadora PolyGram. "Produzi o disco totalmente sozinho, e não aceitaria mudar uma vírgula", diz. A gravadora recebeu bem o trabalho, segundo ele. A meta era não ceder aos esquemas comerciais das gravadoras, que "estão sempre querendo inventar coisas novas". Mais, era assumir brasilidade, "não ter vergonha de ser brasileiro". Um disco conceitual, nas próprias palavras de Moreira. Para isso, ele adicionou trompetes, violinos, oboés e clarones a instrumentos tipicamente tropicais. Há mambos, chorinhos, baiões, sambas, bossas e quase-pagodes devidamente revestidos de sons sinfônicos. A alquimia, evidente nas belas "Estações", "Meu Namoro", "Verdade" e a longa "Suíte Nordestina", é resultado do ano que passou ouvindo música clássica e os últimos trabalhos de Chico Buarque e Zizi Possi. As influências foram perfeitamente assimiladas: o disco reproduz os arranjos sofisticados de Zizi e as homenagens à nobre linhagem da MPB de Chico Buarque. Moreira regrava "Isto Aqui o que É", de Ary Barroso, cita Pixinguinha em "Chorar É Preciso", recicla "Antonico", de Ismael Silva, em "Ser Artista", resume a biografia de "José Assis Valente". Fala deste último com especial entusiasmo, em letra discursiva. Diz que pretende gravar um disco só com músicas do compositor de "Brasil Pandeiro" (gravada em 1972 por seu grupo, os lendários Novos Baianos). Moreira não esquece também as próprias origens. O disco termina com "Dagmar", gravada pelos Novos Baianos em 1973 num disco que tinha na capa o sítio-comunidade onde o conjunto vivia e onde o músico está novamente morando. Na própria linha conceitual que persegue, o disco expõe sua fragilidade e sua força. As letras em tom de homenagem resvalam quase sempre na pieguice. O delicado tratamento musical coloca-o à frente de qualquer outro disco recente de Moreira. Se não é um grande disco de MPB, "O Brasil Tem Con&erto" é um grande disco de Moraes Moreira; se não é o melhor disco do ano, encaixa-se num cenário de recomposição da MPB; se não se aproxima da genialidade dos Novos Baianos, supera-os ao menos em sofisticação. Faz pensar no que poderia ser uma reunião do grupo, se realizada (como sonha Moreira) num clima de despojamento, "sem oportunismo e com músicas inéditas". Disco: O Brasil Tem Con&erto Autor: Moraes Moreira Lançamento: Polygram Preço: R$20 (o CD, em média) Texto Anterior: Romance mostra o sofrimento do exílio Próximo Texto: "A Última Batalha da Indochina" expia culpa dos franceses no Vietnã Índice |
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